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Amarante : o que ver e fazer

São Gonçalo de Amarante é popularmente conhecido como casamenteiro das velhas.  Reza a lenda que uma senhora já entrada na idade não conseguira arranjar marido durante toda a sua vida.  Dirigiu-se ao mosteiro e suplicou ao santo que lhe arranjasse um noivo. Os habitantes da cidade riram-se dela. A verdade é que a velha arranjou um noivo, novo e bonito, de quem as mulheres mais novas invejavam.

“Onde posso encontrar o São Gonçalo? Mas não é para mim!!!”


São Gonçalo de Amarante
Casamenteiro das velhas
Porque não casais as novas
Que mal vos fizeram elas?

Por isso, ainda hoje,  as mulheres (novas e velhas) procuram a figura de S.Gonçalo e puxam o cordel da sua batina pedindo casamento.

São Gonçalo de Amarante
Santo bem casamenteiro.
Antes de casar as outras,
A mim casai-me primeiro!

O dia prometia chuva, mas chegados a Amarante o sol sorriu-nos. Fomos visitar a cidade, mas Amarante é muito mais. Para quem procura natureza, tem o rio Tâmega ou a Serra do Marão e da Aboboreira, com paisagens muito próprias, feitas de xisto e granito. Quem procura história e arte, tem as ruas antigas, o mosteiro de São Gonçalo e as Igrejas de S. Pedro e S. Domingos, o antigo convento de Santa Clara, a velha ponte, que conta  a história das invasões francesas e das cheias, ou o museu Amadeo de Souza-Cardoso. Tudo cria um ambiente rústico, onde as lendas têm compasso de voo. Para quem procura gastronomia e festa, tem à mesa a vitela maronesa, o cabrito ou bacalhau, regados pelo bom vinho verde. Para a sobremesa (ou sempre) a doçaria conventual e tradicional, bem característica, que faz da Festa Popular de S. Gonçalo, em junho, uma visita obrigatória.

Estacionámos o carro junto ao Mercado e partimos à descoberta da cidade. Nas margens do rio, bem perto da Igreja de São Gonçalo, dois pássaros fazem jus às lendas de casamenteiro deste santo.

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O centro histórico de Amarante é pequeno, tudo está perto de tudo. Por isso, o segredo da visita é passear-se por lá. O que visitamos em Amarante? É sobre isso que vos vamos contar.

1. Convento e Igreja de S. Gonçalo

Imponente. Recorta o céu e desenha a paisagem da cidade. A construção atual, datada de 1540, por deliberação de D. João III de Portugal, foi construída sobre a ermida erguida pelo beato Gonçalo de Amarante no início do século XIII. Dentro e fora, o tempo é de permanências. Destaca-se: a Varanda dos Reis, rasgada no exterior da Igreja formando cinco arcos simétricos. O Pórtico de entrada onde estão representados os Santos, e que se desenha no chão, de forma discreta, como se a Igreja se espelhasse. O altar-mor, dourado como o sol. O órgão de tubos, que não é tão bonito como o de Tibães, em Braga, mas é igualmente majestoso. O túmulo de S. Gonçalo e a imagem do beato que conserva a tradição: se puxar a corda da cintura e pedir três desejos, eles serão concretizados. Tiveram de cortar a corda porque a procura era tanta que o santo caiu. E, por fim, o claustro principal de dois andares. No primeiro andar, chão e tecto dialogam memórias idas. Ao centro, uma fonte que dá um toque de charme e estica-se para beijar o céu. No segundo andar, instalou-se o Museu Amadeo de Souza-Cardoso.   

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2. Igreja de S. Domingos (Nosso Senhor dos Aflitos)

Esta Igreja foi erguida pela Venerável Ordem Terceira dos Dominicanos. De estilo Barroco, ficou concluída em 1725, e exibe, logo à entrada, as armas e as cores dominicanas (preto e branco). Vizinha da Igreja e Convento de São Gonçalo, esta Igreja merece ser visitada. A subida de acesso é íngreme, o chão empedrado e a torre do relógio está lá, para que não nos esqueçamos do tempo… do tempo que foi, do tempo que é!

A Igreja só está aberta da parte da tarde, porque a abertura é garantida por um grupo de paroquianas que formam pequenas equipas para o efeito. Foi com elas que estivemos à conversa. Foram elas que nos explicaram a história desta Igreja, os seus significados e pormenores, daqueles escondidos por detrás da pintura. Cada vez mais nos convencemos que é destes momentos que as viagens se fazem. Contavam-nos, com o pormenor de quem sabe, como a introdução da talha dourada, no século XVIII, veio tapar as pinturas e os frescos originais, da cor dos dominicano. E explicaram como a intervenção de conservação e restauro mais recente tem vindo a desocultar essa história.

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Vista da Igreja de São Domingos

3. Ponte de São Gonçalo

História, lendas e milagres… é disso que nos fala a ponte de São Gonçalo de Amarante. Monumento Nacional desde 1910, a história não deixa esquecer que foi construída no século XVIII, sobre o Rio Tâmega, e que o seu nome e edificação está associada aos milagres de São Gonçalo. Desmoronada na sequência de uma cheia, em 1763, foi reconstruída e aberta ao transito em 1790.

Quem sabe São Gonçalo continue por lá, como reza a lenda, e tenha ajudado na reconstrução, removendo as pedras com as suas mão e saciando a fome aos trabalhadores. Quem sabe! A história também não nos deixa esquecer o papel importante desta ponte na resistência da população e dos soldados portugueses contra as tropas de Napoleão, que invadiram Portugal no início do século XIX (1809). Nas extremidades da ponte encontramos tributos a este feito heróico, hoje memória!

Perdemos a conta das vezes que atravessamos o seu tabuleiro de 50 metros. Que permanecemos nos seus varandis semicirculares. Que fotografamos os seus arcos desiguais e os seus pormenores. Perdemos a conta das vezes que a atravessamos, infelizmente tendo de nos desviar dos carros que por lá passam.

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4. Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso

O Museu está instalado numa parte do Edifício do Convento de S. Gonçalo, trazendo à história modernidade. Expõe obras de artistas naturais de Amarante, com destaque para as obras de Amadeo de Souza-Cardoso. Além da exposição permanente é comum ter exposições temporárias ou temáticas. Quando lá estivemos estava em exposição o 11.º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. Pagamos 1€ de entrada. A visita foi rápida, por causa do adiantado da hora, mas bem interessante.

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5. Casa Dolmen

A Casa Dolmen, Desenvolvimento Local e Regional, fica na muralha que ladeia o Hotel Casa da Calçada Relais & Chateaux. Entramos a pensar que iríamos encontrar uma montra e mostra de produtos regionais, mas descobrimos que é muito mais do que isso. É um espaço interpretativo e de conhecimento que coloca Amarante na confluência que a define: Terras de Basto, Minho, Trás-os-Montes e Douro, e na Rota do Românico.

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6. Hotel Casa da Calçada Relais & Chateaux

A Casa da Calçada, construída durante o século XIV para ser um dos palácios do Conde de Redondo, está situada em pleno centro histórico de Amarante, com vista privilegiada para a Igreja de São Gonçalo. É, atualmente, um hotel de luxo. Rodeada de árvores centenárias e de uma fortaleza que contrasta com a sua cor amarela, o seu interior respira requinte e sofisticação. Parece que estamos a entrar num livro de Eça de Queirós, tal é o pormenor descritivo das suas salas. Apesar de ter um restaurante premiado com Estrela Michelin, chamado Largo do Paço, a nossa visita teve gosto a “chá das cinco”.

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6. Os “quilhõezinhos de S. Gonçalo”

Desengane-se quem acha que a doçaria de Amarante não é um lugar de visita… e  dos obrigatórios. Desde a doçaria conventual, originária do Convento de Santa Clara –  papos d’anjo, toucinho do céu, galhofas, lérias, foguetes ou as brisas do Tâmega – aos tão procurados bolos de São Gonçalo, de aspeto fálico, que são sempre motivo de curiosidade e de grandes gargalhadas. Chamam-se popularmente “quilhõezinhos” ou “caralhinhos” de S. Gonçalo, e são presença certa nas festividades da terra. Estes doces são um culto à fecundidade e uma representação icónica das preces e rituais das mulheres solteiras para arranjar marido.

Foi na Confeitaria O Moínho, com janela para o rio, que nos deliciamos com os doces conventuais e ficamos a conhecer um pouco mais da história dos bolos de São Gonçalo, que não se conta sem uma pitada de malícia e boa disposição. Hoje feitos de massa mole, os “quilhõezinhos” tradicionais são de massa dura! E assim foi a nossa conversa com a proprietária da Confeitaria.

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Almoçamos na Adega Regional Quelha, um restaurante que fica um pouco escondido, já na parte mais moderna da cidade. A porta é discreta e o seu interior é bem rústico. Desde as mesas e bancos corrido à decoração com objetos de lavoura. O espaço é acolhedor, a comida é ótima, o preço bastante convidativo. Na ementa… comida e bebida regional portuguesa, e pronto!

Amarante começa por Amar, e não podia ser de outra forma.


Detalhes
Passeio realizado em março de 2018
Marcelo Andrade @iremviagem
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Comentários

  • 14 de Abril, 2018

    Mais um post de excelência.
    Narrativa de primor e reportagem fotográfica de muita qualidade.
    Conheço bem esta cidade, mas vendo esta vossa partilha, deixa-me saudades.

    Aquele grande abraço meus amigos, Vera &Marcelo

    Responder
    • 14 de Abril, 2018

      Obrigada Joaquim. É bom saber que as nossas viagens e experiências permitem que os/as leitores/as regressem aos lugares ou viagem por eles. Um grande abraço!!

      Responder
  • Manuela Vann
    14 de Abril, 2018

    Adorei conhecer Amarante e a sua história. Para a próxima traz uns docinhos, ok?

    Responder
  • Manuela Vann
    15 de Abril, 2018

    Sinceramente não fazia a menor ideia da grandiosidade da história dessa cidade, aliás Portugal é uma autêntica caixinha de surpresas que, através dos vossos olhos e reportagens escritas e fotográficas certamente irão “abrir o apetite” a quem como vós gosta de novas aventuras e conhecimento. Quanto aos Gonçalinhos são sempre bem vindos. Parabéns pelo vosso empenho.

    Responder

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