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Las Médulas (Espanha): as montanhas cor-de-fogo

Sabem quando vêem a fotografia de um local e ele não vos sai da cabeça, e começam logo a magicar a melhor forma de lá ir? Foi o que nos aconteceu. Las Médulas era o destino. Ponferrada, Molinaseca e Villafranca del Bierzo foram o complemento perfeito. Dois dias de viagem por terras del Bierzo, na província de León, em Espanha.

Terras cheias de história, tanta quanto o nome sugere.

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Las Médulas são um complexo paisagístico, composto por montanhas recortadas, de uma cor alaranjada, cor-de-fogo, que desponta por entre o verde. O que de relance parece uma ação da natureza é, pelo contrário, fruto de intervenção humana, resultado das obras de mineração romana de ouro, ao longo dos séculos (finais do séc. I a.C. até finais do séc. II d.C.). Um trabalho de engenharia superior que deu origem a esta paisagem pouco usual, mas que quase pôs em causa o reconhecimento de Las Médulas como Património da Humanidade, por se considerar que a beleza e unicidade do local foi causado por destruição humana, um prejuízo para a causa da proteção ambiental. Mas o local é tão especial que é, hoje, reconhecido como Património Cultural, desde 1996, Património Mundial, desde 1997, Monumento Nacional, desde 2002, e Espaço Cultural desde 2012.

Por onde começar  visita?

Um bom ponto de partida é começar pela Aula Arqueológica (que para nós foi o fim da visita), gerida pelo Instituto de Estudios Bercianos. Neste local (cuja visita custa 1,5€ por pessoa), encontramos uma reconstrução histórica do funcionamento da mineração de ouro, chamado “Ruina Montium”, e da forma como tudo isto moldou paisagens e mudou a vida das populações ao longo dos séculos. Perplexidade, é a palavra. “Ruina Montium” era uma técnica que consistia em escavar cavidades na montanha (algumas chegavam a atingir os cem quilómetros) que eram depois enchidas com água (do rio). O objetivo era criar pressão suficiente para fazer explodir a montanha, levando à luz do dia o ouro escondido no seu interior. Tudo isto feito à mão. Estávamos no  séc. I a.C.! Mas o ouro começou a perder valor,  e esta mina de ouro, a céu aberto, foi sendo abandonada. O que outrora foi ação do homem, hoje parece expressão da natureza… e será para sempre, paisagem cultural.

Seguindo caminho, entramos na pequena aldeia de Médulas que nos dá as boas vindas.  Claramente preparada para acolher os/as turistas, esta pacata aldeia é o início das visitas.

Aqui encontramos o Centro de Recepção de Visitantes, que distribui mapas, dá indicações e organiza rotas e visitas guiadas. Há vários percursos que permitem diferentes combinações, de maior ou menor distância, sendo possível interligá-los.
_ Não preferem ir lá acima (referindo-se ao Mirador de Orellán) de carro, é mais fácil!! Dizia-nos a funcionária do Centro de Recepção. De facto, podíamos ter escolhido o caminho mais fácil, mas não… optamos pela combinação de três dos cinco percursos existentes, tal como nos foi sugerido na Aula Arqueológica: a “Senda de las Valinãs”, que é o percurso mais curto,  a “Senda Perimetral”, que é o mais longo,  e a “Senda de Reirigo”, que é o mais sinuoso. No total, cerca de 12 quilómetros de caminhada.

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Plano que nos foi dado na Aula Arquiológica

(1) Começamos pela “senda de las Valinãs” (cerca de 4 quilómetros), um percurso sem grandes desníveis e que nos permite adentrar a parte mais baixa de Las Médulas. Para quem quiser percorrer a zona principal de exploração mineira, este é o melhor trilho. Passamos pelo meio de bosques de castanheiros seculares, de casca rugosa e escura, qual Alice no Pais das Maravilhas.

Chegamos a La Cuevona e a La Encantada, que são duas grutas enormes perfuradas na rocha. Neste momento percebemos na perfeição a envergadura do projeto mineiro de Las Médulas. É impressionante. Deixa-nos sem palavras. Um silêncio que ecoa as vozes de quem lá trabalhou.

Seguimos em direção ao Mirador de Orellán (2). Fomos a pé, mas é possível ir lá ter diretamente de carro. Este é o local onde se conseguem tirar as fotos mais belas de Las Médulas e onde conseguimos perceber a  sua  grandiosidade. Bem lá do alto, o grito é de conquista. Primeiro, por ter conseguido chegar lá acima! A subida é sinuosa e bem íngreme. Depois porque a vista é única. Ficámos, ficámos muito tempo… o suficiente para ter perdido a hora de visita às galerias de Orellán (horário:  11h00 às 14h00 e 16h00 às 19:00, 2€ por adulto).

(3) Dali seguimos pela “senda Perimetral” que nos permite caminhar à volta de Las Médulas. Dá-nos uma vista larga sobre a paisagem e permite compreender a importância da água em todo o processo mineiro. Antes do campo de merendas de Braña cortamos à direita, e subimos pelo Canal de Peña Escribida em direção ao alto do Reirigo. Subidas exigentes, num terreno resvaladiço, solo pouco firme e coberto por pedras soltas. Um percurso pouco cuidado, pouco sinalizado e até perigoso! Situação que comentamos e reportamos no fim do trajeto, mas que não parece ser novidade!

Pela “senda de Reirigo” as montanhas cor-de-fogo e as suas galerias dividem o espaço connosco. Lá em cima, no pico Reirigo, a 980 metros de altitude, a paisagem é, mais uma vez, majestosa.

Começamos a descer e regressamos à “senda perimetral”, em direção ao mirador de Las Pedrices. Daqui conseguimos ver, à esquerda, o Lago Sumido, ao centro, a aldeia, e à direita os picos “extravagantes e caprichosos” de Las Médulas; ao mesmo tempo que nos explica as distintas fases da exploração mineira e as marcas que cada uma delas deixou na paisagem. Vale a pena parar por um momento e, como se numa aula estivéssemos, compreender e admirar esta mina de ouro a céu aberto.

Regressamos ao ponto de partida, adentrando a aldeia e voltando à Aula Arqueológica. O dia tinha sido fantástico, mas estava longe de ter terminado. Daqui seguimos para Ponferrada, que fica a cerca de 25 quilómetros de La Médulas, mas essa será uma outra história… ao estilo de lenda.


Detalhes
Visita realizada em abril de 2018
Marcelo Andrade @iremviagem
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