Caminho de Santiago: Padrón – Santiago de Compostela
Caminho de Santiago: 7ª Etapa
Distância e duração: 25 quilómetros, 7 horas
Mais interessante: À saída de Padrón, tomar o pequeno almoço no Don Pepe para receber um abraço único e fraterno de “bon camino”. Fazer o percurso por um enfiamento de várias aldeias, que nos traz uma paisagem diferente das etapas anteriores. Avistar a Catedral pela primeira vez, ainda a 5 km da cidade. A chegada à praça da Catedral, o abraço emocionado, o pousar as mochilas, tirar as botas e deitar no chão… o viver todo aquele sentimento e ambiente apoteótico da chegada. Abraçar a Imagem de Santiago (dentro da catedral) e “falar-lhe como um amigo”. Descansar e passear-se pela cidade.
Mais difícil: Para a Vera, os últimos sete quilómetros, por causa do joelho, mas, em geral, a entrada na cidade (por Conxo), pouco sinalizada e “despida” das paisagens a que o Caminho nos habituou. O tempo de espera para obter a Compostela (média de 2 horas). Sentimento de alguma tristeza quando pusemos o último carimbo na credencial.
Aprendizagens: “Não deixes que o caminho passe por ti e torna-te parte do caminho”… aceita o que ele te der.
Dicas úteis
– Nunca devemos descurar o calçado e a roupa a levar. Deixamos aqui algumas sugestões do tipo de material que utilizamos: botas, meias, calças moduláveis, impermeável adaptado a quem leva mochila.
– Leia o nosso artigo sobre “O nosso caminho para Santiago: escolhas e questões práticas”
#caminho Português de Santiago #caminho central #maio2018
“Amanhã encontramo-nos no Pepe para o pequeno-almoço”. Foi esta a combinação da noite anterior no Restaurante Alpendre. Quando lá chegamos, percebemos por que é que o bar Don Pepe é paragem obrigatória. A simpatia do seu dono – José Manuel Gil Abalo – é memorável. Diz que trabalha feliz por conhecer peregrinos de todo o mundo e ser o primeiro a dar aquele abraço especial de Bon Camino. Abre o bar pelas cinco da manhã (e mais cedo se lhe pedirem) para servir o pequeno almoço aos peregrinos que iniciam esta última Etapa do caminho. O bar é uma espécie de museu, quase um relicário, com todo o tipo de objetos – t-shirts autografadas, bandeiras, fotografias, conchas, bilhetes – sobrepostos na parede e no tecto. Mas nada parece bater as dezenas de livros onde guarda as dedicatórias escritas pelos peregrinos… em cada dedicatória, um beijo e um sorriso… daqueles com idade de infância.
Quando sais de Padrón passas por Iria Flávia, uma terra que teve uma grande importância na época romana, elevada a cidade nos anos da dinastia Flavia (69-96 d.C.). Foi uma das primeiras sedes episcopais, antes de ter sido mudada para Santiago de Compostela. Hoje é lugar de passagem, feito dos fantasmas da história.
Até ao Santuário da Nossa Senhora da Escravitude são 6 quilómetros, feitos por entre um enfiamento de aldeias. Um percurso diferente das outras Etapas, mas que gostamos bastante. A partir daqui, volta a N550, os estradões e os atalhos, até O Faramello.
Não há Caminho sem “bosques encantados”, e lá surgiu ele, tornando esta última Etapa ainda mais bonita. Agora já não somamos quilómetros… e parece que a velocidade de quem caminha acompanha as batidas da contagem decrescente. Faltam oito, sete, seis… e em O Milladoiro estamos a cinco quilómetros de Santiago. Se as condições meteorológicas permitirem podemos avistar a Catedral daqui. Descemos a encosta por um bosque e optamos por seguir pelo Bairro de Conxo (em vez de subir pela Choupana, Capela de Santa Marta, Rua Rosália de Castro). Ambos os percursos convergem para a Praça de Vigo.
Estamos quase lá… o ritmo impõe-se, mas a entrada na cidade não é propriamente bonita, e as setas amarelas deixaram de aparecer. Ficamos um pouco desorientados e naquele momento veio à cabeça o que dizia um peregrino brasileiro, em tom de brincadeira: _ Como é que a gente agora se vai orientar na rua sem setas amarelas?
Chegamos à Catedral… um misto de sentimentos. Entrar na Praça do Obradoiro de mochila às costas e vieira pendurada é uma sensação única e inesquecível. Abraçamo-nos e assim permanecemos algum tempo. Tínhamos conseguido… os dois… terminar este caminho com “sentido de alma” e “sabor a vida”. Pousamos as mochilas, marcamos o momento frente ao quilómetro zero, tiramos as botas e deitamo-nos no chão. Naquele momento, fez-se silêncio e a emoção transbordou.
Como decidimos ficar em Santiago para o dia seguinte (que aconselhamos a quem puder!), e considerando que não se pode entrar na Catedral com a mochila, decidimos ir até ao hotel pousar as coisas e descansar um pouco. A meio da tarde saímos para visitar a Catedral e as suas imediações, dar um abraço ao Apóstolo Santiago, cuja imagem está atrás do altar-mor, e assistir à eucaristia de final da tarde. Como peregrinos, é sempre bom cumprirmos ritos que têm mais de oitocentos anos, pelo menos aqueles que as obras na catedral nos deixam fazer.
O Centro Histórico de Santiago de Compostela é um museu, que foi declarado pela UNESCO como Património da Humanidade, por isso, a melhor forma de conhecer a cidade é perder-se pelas suas ruas e viver o seu espírito festivo e jovial. Ser a meta final do Caminho de Santiago, transforma a cidade numa experiência única.
Passear por Santiago é, também, uma experiência gastronómica, à qual não nos fizemos rogados. Montras que são uma espécie de arte e que nos convidam a entrar. Tapas e montaditos, peixes e mariscos, pulpo à feira, ternera gallega, caldo gallego, tarta de santiago, e muitos mais. Santiago tem movida e é essa a relação que temos de ter com ela.
No dia seguinte, logo pela manhã, fomos à Oficina do Peregrino buscar o último carimbo: o Carimbo da Catedral, e pedir o Certificado tradicional da peregrinação: a Compostela (para saber mais: O nosso caminho para Santiago: escolhas e questões práticas). Esperamos cerca de uma hora e pouco (que até foi uma boa média no tempo de espera), numa fila animada e bem disposta. Regressamos à Praça e, no quilómetro zero, mesmo frente à Catedral, dissemos “até já, Santiago!!
Esta foi a última Etapa do nosso primeiro Caminho, é certo que voltaremos a por pés à estrada. Já viajamos bastante, mas o Caminho toca-nos de forma diferente… talvez porque nós somos o Caminho.
♥
“Não passes pelo caminho…
Deixa antes que o caminho passe por ti!
Veja também
- O nosso Caminho para Santiago: escolhas e questões práticas
- Etapa 1: Ponte de Lima – Rubiães
- Etapa 2: Rubiães – Tui
- Etapa 3: Tui – Redondela
- Etapa 4: Redondela – Pontevedra
- Etapa 5: Pontevedra – Caldas de Reis
- Etapa 6: Caldas de Reis – Padrón
Detalhes
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Manuela Vann Duarte
Se a última etapa foi emocionante para vós, não foi menos para nós, que num meio de transporte mais fácil, vos fomos buscar depois de uma semana de expetativa. Estou feliz pela vossa coragem de pôr “pés ao caminho” e como não fomos feitos para caminhar sós, foi certamente no olhar um do outro que encontraram a força e a certeza de que existimos. Que nunca se perca o espírito de liberdade que vos impulsiona e leva a conhecer novos mundos. Bjhs
Marcelo e Vera
<3
Pingback: O nosso Caminho para Santiago: escolhas e questões práticas
Marisa
Olá, terminamos ontem o nosso primeiro caminho, o relato do vosso caminho foi companhia assídua para nos ajudar nas nossas dúvidas e nos encorajar a cada nova etapa. Parabéns pelo vosso blogue, parabéns pelo vosso caminho!
Marcelo e Vera
Olá Marisa, nós é que agradecemos e nos sentimos honrados pelo facto de a nossa experiência ter sido útil no vosso Caminho. “Não passes pelo caminho…Deixa antes que o caminho passe por ti! Um beijinho.