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Zeneando por Castelo Rodrigo

Regressamos à nossa rota e à nossa partilha de experiências. Mochila às costas, ténis nos pés e mente desperta. Vamos embarcar num novo destino mas numa mesma História, a nossa História.

O mês de Agosto é de Castelo Rodrigo

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Castelo Rodrigo teve importância no século XIII em consequência do progresso de Reconquista. Conquistada por Afonso Henriques em 1161, o rei galego Fernando II mandou repovoar a região. Poucos anos depois, em 1209, Afonso VIII da Galiza concede-lhe foral.

Pela sua localização estratégica, Castelo Rodrigo, que passou a domínio português em 1297 pelo Tratado de Alcanices, teve importância nas guerras de libertação de Portugal contra Castela. Foi o Rei Dom Dinis quem mandou edificar as grossas muralhas reforçadas por cubos semicirculares que protegiam o casario. A 7 de julho de 1664 travou-se nesta vila a famosa Batalha de Castelo Rodrigo, onde as tropas portuguesas, comandadas por Pedro Jacques de Magalhães, derrotaram o exército espanhol do Duque de Osuna.

Situada sobre um outeiro, hoje constitui um notável testemunho para estudar a realidade de uma pequena cidade dos séculos XV e XVI, que com a perda da sua importância fez com que os habitantes fossem descendo a colina à procura de uma maior comodidade e se fixassem na nova cidade que hoje se apresenta como Figueira de Castelo Rodrigo.

Começamos a nossa aventura em Figueira de Castelo Rodrigo com um maravilhoso almoço no restaurante Arco Íris. Precisávamos de recarregar baterias e provar as iguarias típicas da região. Acabamos por comer uma tábua de queijos e enchidos, a posta de vitela grelhada e uma torta de amêndoa que é a “rainha do pedaço”. Tudo bem regado com um vinho maduro tinto, aconselhado pela casa.

Vislumbrar Castelo Rodrigo e a Serra da Marofa (“Amar Ofa”) desde Figueira já é uma maravilha, mas chegar à sua porta amuralhada é a certeza de que os nossos antepassados estão presentes nos nossos dias.

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A Porta do Sol (Porta da Nascente) dá-nos as boas vindas e abre-nos o caminho para esta fortificação. Mesmo à entrada podemos ver a dinâmica do comércio local, com o seu produto chave – a amêndoa. Há sacos de amêndoa com todas as coberturas possíveis e imaginárias, com direito a degustação. Também existem os licores, os biscoitos e os chás. Há ainda uma grande oferta de produtos elaborados à base de cortiça, principalmente chapéus, carteiras e calçado.

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Rapidamente somos engolidos pelas ruas estreitas empedradas, nos seus tons terra. As casas são pequenos pedacinhos de pedra abraçados uns aos outros. Podemos com facilidade sentir uma mística intemporal, o brilho está a cada passo e em cada habitante ou visitante com que nos cruzamos.

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Desde pequena que tenho o privilégio de conhecer esta parte do interior do nosso país e pergunto-me, muitas vezes, o porquê de não ter interesse, ou de ter um interesse menor. Valorizo muito o empenho destas gentes e destas povoações, que apesar das adversidades continuam a encantar a cada visita. Acredito que as conquistas são difíceis, mas sempre possíveis de alcançar.

Seguindo o empedrado podemos ver, ao nosso lado direito, o Palácio de Cristóvão da Moura e a sua Portal Monumental. A dinastia filipina que subiu ao trono português em virtude da crise sucessória de 1580, desencadeada pela morte do rei Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, teria impacto direto no velho burgo de Castelo Rodrigo. Efetivamente, Cristóvão de Moura, filho de um antigo alcaide da vila e figura-chave de sua diplomacia durante a crise de sucessão de 1580, mandou construir o seu palácio em Castelo Rodrigo,  no preciso local onde se situava a alcáçova. A importância deste homem na administração de Portugal durante o domínio filipino fica bem patente no facto de Filipe II de Espanha ter elevado a localidade a condado, tendo atribuído o título de conde ao seu Conselheiro predileto, D. Cristóvão de Moura (1594).

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Apesar de o Palácio estar em ruínas, sofreu, recentemente, uma intervenção e além de receber as visitas é também palco de espetáculos culturais. Das suas paredes é possível ter uma vista privilegiada por toda a aldeia e arredores.

Continuando a nossa visita podemos ver a Torre do Relógio, antigo pano de muralha, à qual foi adicionada uma torre sineira que originalmente tinha um relógio de martelo com pesos de granito. Ainda no enquadramento amuralhado podemos integrar a Torre de Menagem, símbolo de poder e morada do donatário do castelo mandada edificar por Dom Dinis, de extraordinária grandeza e altura, é quadrangular e tinha 6 janelas rasgadas e gradadas. Encontra-se em estado de abandono no século XVIII. Terá sido demolida no século XIX, podendo ainda ser observado o embalsamento original.

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Acrescentando à beleza de toda a muralha, não podia faltar o enquadramento religioso com a presença da Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora do Rocamador, fundada no séc. XIII pela Confraria dos Frades de Nossa Senhora de Rocamador, uma congregação que se dedicava à assistência aos peregrinos compostelanos. Mantém a tipologia primitiva e é um exemplar de transição entre o românico e o gótico, mas foi sofrendo obras posteriores, nomeadamente nos séculos XVI e XVII, que alteraram a estrutura do templo. Possui planta composta, três naves, pórticos de verga reta e frontão angular. No seu interior podemos admirar um teto de caixotões de madeira pintada com cenas hagiográficas, na capela-mor azulejos do século XVIII, azuis e brancos e no altar-mor azulejos hispano-árabes. A Igreja foi restaurada no final dos anos 90, no âmbito do Programa Aldeias Históricas de Portugal.

Durante o percurso podemos ainda admirar a Cisterna Medieval e os pormenores nos edifícios, tais como inscrições hebraicas, judaicas e influencias arquitetónicas de origem manuelina.

O Pelourinho junto à antiga Casa da Câmara é o símbolo da atribuição de foral a Castelo Rodrigo por D. Manuel I, é a consolidação do seu poder concelhio bem como a sua autonomia jurídica e administrativa.

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Não podemos abandonar a aldeia sem antes dar uma espreitadela bem ao longe e admirar as linhas de muralhas alicerçadas sobre cubelos semicirculares, que nos fazem recordar a cerca de Ávila, erguidos provavelmente por iniciativa de Afonso IX de Leão.

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Acabamos o nosso passeio com uma visita ao Convento de Santa Maria de Aguiar. O Convento fica situado a 3 km de Figueira de Castelo Rodrigo, à beira da estrada que une a vila e sede do concelho à freguesia de Almofala. A Igreja do Convento é um exemplo fidedigno da primitiva arquitetura cisterciense: austeridade, robustez e poucos elementos ornamentais.

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Finalizamos com um refresco junto à Barragem de Santa Maria de Aguiar, mesmo ali ao lado.

Em jeito de despedida ficam algumas sugestões que vos podem ser muito úteis.

Onde ficar?

Onde comer?

  • Restaurante Arco Íris
  • Patéo do Castelo – Casa de Chá
  • Taverna da Matilde

Calendário de festividades?

  • Festa da Amendoeira em Flor (aconteceu de 16 de Fevereiro a 11 de Março de 2018)
  • Figueira com Vida (a acontecer nos dias 10, 11, 12, 13, 14 e 15 de Agosto de 2018)
  • Feira Medieval VILLA TEMPLARI de Castelo Rodrigo (a acontecer nos dias 19, 20 e 21 de Agosto de 2018)

Locais próximos a visitar?

  • Escarigo
  • Almofala (Torre)
  • Convento e Barragem de Santa Maria de Aguiar

Encontramo-nos no próximo destino, Setembro será o mês de Castelo Mendo.

Até lá boas descobertas.


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