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Zeneando por Castelo Mendo

Desde muito nova que os castelos me encantam, não os castelos dos filmes da Disney (passo a publicidade), mas os castelos de outrora, aqueles reais, que acolheram reis e rainhas, príncipes e princesas, aios, bobos da corte, guerreiros, fidalgos e clero, entre muitas outras figuras míticas, tão próximas e tão distantes ao mesmo tempo.

Esperamos que gostem tanto de histórias e lendas como nós, pois o próximo destino é rico nelas. Deixem-se encantar.

O mês de Setembro é de Castelo Mendo

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Castelo Mendo é uma aldeia que pertence ao concelho de Almeida, bem ali no interior do país surge uma aldeia que é um autêntico museu ao ar livre. A 762 metros de altitude a sua imponência espacial dá-nos a perceção da sua importância para a Coroa, na primeira linha da frente na defesa do reino.

Um pouco de história. A sua ocupação recua à Idade do Bronze, havendo também vestígios romanos. Porém foi com a reconquista Cristã que ganhou um papel estratégico na defesa fronteiriça de Riba Côa, face aos vizinhos de Leão e Castela. Recebeu foral nos séc. XIII e XVI e terá sido pioneira na concessão das feiras medievais portuguesas. Foi D. Sancho II  que deu o passo decisivo ao povoado, com a doação de foral e a criação da feira franca, trazendo o crescimento económico e consequentemente o crescimento urbano. Na mesma altura o monarca terá mandado amuralhar o povoado medieval. Posteriormente, no reinado de D. Dinis, Castelo Mendo teve um papel significativo na defesa da fronteira, foi também época da construção da segunda cintura de muralhas. Mais tarde com o tratado de Alcanices e a definição das novas fronteiras, Castelo Mendo foi perdendo a sua importância, enquanto ponto estratégico.

Hoje em dia a aldeia conserva ainda a sua traça antiga no seu belíssimo conjunto amuralhado, edificado de memórias históricas visíveis nas suas casas, de janelas manuelinas e varandas alpendradas.

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Confessamos que as expectativas não eram muito elevadas, dado que é um destino pouco divulgado. Arriscaríamos mesmo a dizer que, das aldeias históricas, esta possa ser a menos conhecida.

A viagem até lá foi agradável, e chegados à Porta da Vila deparamo-nos com a imponência da sua muralha, ladeada por dois torrões e guardada por dois berrões celtas, representando, pela observação dos seus genitais, um macho e uma fêmea de porcos ou javalis, estas esculturas estão ligadas possivelmente ao culto da fertilidade do povo Vetão.

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Mal atravessamos a porta de entrada, a sua calçada leva-nos por uma aldeia preservada nas suas origens e raízes.

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Tínhamos dado poucos passos quando fomos abordados por dois dos seus habitantes, um casal muito simpático que tinha acabado de cozer pão no forno comunitário, datado do séc. XVIII. Fomos convidados a entrar numa garagem/cozinha onde havia outras iguarias da zona – bom azeite, bom mel, bom vinho. Foi uma tentação, principalmente porque vieram à memória recordações de infância. Conversamos sobre a aldeia, os cultivos, o dia a dia. Fizemos as nossas encomendas, para mais tarde ir buscar para o lanche, e seguimos viagem com o coração mais preenchido e com umas dicas de quem habita por aquelas paragens solarengas e harmoniosas.

Seguindo o nosso percurso chegamos ao largo do Pelourinho, símbolo jurídico e administrativo, com sete metros de altura. É um dos mais altos da Beira Interior. Situa-se na Praça com o mesmo nome que, juntamente com o Largo da Igreja de S. Vicente, constituem estruturas urbanas de grande significado e importância desde a Idade Média. É uma praça ampla e agradável que tem um pequeno café onde se pode parar para mais um pouco de convívio com os locais, que ora passam só para dizer um olá, ora passam para um momento de descontração, ou mesmo à procura de um bom pretexto para ajudar um conterrâneo.

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Por umas ruas mais estreitas continuamos na caminhada até avistar a antiga Casa da Câmara – Cadeia e Tribunal. Data do séc. XVI e XVII (estilo maneirista). Foi construída sobre a muralha da cidadela. No piso superior funcionava a Câmara e o tribunal e no piso inferior a Cadeia. Alberga, atualmente, um interessante núcleo museológico de cariz rural e etnográfico, denominado de Museu dos Sentidos. Uma interessante estrutura que nos remonta a tempos antigos, nos seus artefactos e figuras. O museu é de entrada livre,  mas são aceites donativos para a preservação do local.

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Surge neste edifício, de interesse arquitetónico, a figura da lenda da qual advém o nome desta aldeia –  a lenda do Mendo e da Menda.

O Mendo está incrustado na parede do edifício que agora alberga o museu, a figura está colocada a uma altura que não permite o contacto. A Menda, por sua vez, está gravada numa pedra de uma casa térrea em frente, a pouca altura, qualquer pessoa lhe pode fazer festinhas e tirar fotos com ela. Ninguém sabe ao certo a história simbolizada nestas duas figuras. Mas reza a lenda que tenha sido alguma grande paixão vivida. Que amor viveram naquela época que os eternizou para sempre na parede de duas casas? Um amor proibido? Um amor platónico? Ou um amor ousado? Dizem que talvez o Mendo fosse de uma classe social superior e que se apaixonou por alguém de categoria social inferior. Não há uma história concreta, apenas duas imagens voltadas uma para a outra. Teremos nós aqui um romance à luz de Verona e de Romeu e Julieta? Fica a curiosidade e a imaginação a funcionar.

Um pouco mais à frente e quase já a chegar ao primeiro edificado amuralhado, podemos pisar a calçada medieval que remonta ao período romano, considerando a ligação ao Porto de São Miguel, local situado na margem do Rio Côa. Esta calçada leva-nos ao ponto mais alto da aldeia.

Lá erguem-se as ruínas da Igreja Românica de Sta. Maria do Castelo, um edifício de estilo românico que data do séc. XIII. Foi construída, provavelmente, no ano de 1229, se considerarmos a data do foral concedido por D. Sancho II, onde são mencionadas as autoridades religiosas e a instituição recente da paróquia. Podemos caminhar ao redor, entrar e até fazer de estátuas. Imaginar os vários altares e sentir a imponência do local.

Continuando a vaguear por ali, avistamos, no topo sul, a porta do castelinho.  Sigam em frente e não hesitem em olhar para trás, a vista para a aldeia é deliciosa e o enquadramento paisagístico único.

A porta que dava acesso ao núcleo mais antigo do Castelo possui características românicas. O castelo aqui edificado, nos séc. XIII-XIV, apresentava estilo romântico e gótico, apesar de hoje em dia apenas as suas ruínas são visíveis. Ficamos mesmo por ali, a vislumbrar aquele encanto natural, focando os nossos olhares entre o horizonte presente e o imaginário de outrora.

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Em jeito de despedida ficam algumas sugestões que vos podem ser muito úteis.

Onde ficar?

  • Casa da Cidadela
  • Pátio da Caetana (Freineda – a 5km)

Onde comer?

  • Solar do Côa (Freixo)
  • O Túnel (Freixo)

Calendário de festividades?

  • Feira Medieval de Castelo Mendo (decorreu nos dias 7 e 8 de abril de 2018)
  • Os Romances de Menda (a decorrer dias 14 e 15 de setembro de 2018)

Locais próximos a visitar?

  • Castelo Bom
  • Freixo
  • Freineda

Encontramo-nos no próximo destino. Outubro será o mês de Almeida.

Até lá boas descobertas.


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