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Zeneando por Almeida

A Fortaleza de Almeida sempre foi no meu imaginário um desenho feito por um extraterrestre, tão perfeita na sua concessão e tão assustadora no seu alinhamento. Observar a sua amplitude de um bom ângulo é qualquer coisa de espetacular. Ao longe parece ter sido desenhada com régua e esquadro, ao perto a sua beleza provinciana dá-lhe um encanto característico. Entrando por qualquer uma das Portas, a Vila apresenta-se como uma pintura fresca e leve.

Venham daí abrir portas e espreitar os encantos naturais e paisagísticos desta Vila.17991751_1449451455128264_6418149277917131770_o

O mês de Outubro é de Almeida

Almeida é uma vila portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, na província da Beira Alta. O território do Concelho de Almeida apresenta vestígios de presença humana desde o paleolítico, estando detetados alguns núcleos castrejos da Idade do Bronze e do Ferro, bem como informação clara da presença romana. Mas é no período medieval, com especial destaque para a época da formação da nacionalidade, que se estrutura a linha evolutiva.

Um pouco de história

A vila de Almeida é conhecida pela sua fortaleza que, com a sua forma de estrela de doze pontas, constitui um dos mais espetaculares exemplares europeus dos sistemas defensivos abaluartados do século XVII. Localiza-se em Terras de Riba-Côa. O seu caráter fronteiriço é bastante notório, uma vez que toda a sua confrontação a leste é com Espanha, constituindo parte da fronteira Portugal-Espanha, mais conhecida por Raia, sendo por isso esta zona também chamada “região arraiana”.

D. Fernando de Castela conquistou-a aos mouros em 1039, mas voltaria a ser tomada em 1071. Em 1190, D. Sancho I de Portugal tomou-a aos mouros, pela bravura de D. Paio Guterres, neto de D. Egas Moniz, que depois desta conquista ficou apelidado de Almeida. Com as intermináveis guerras daquela época ficou Almeida quase arrasada e despovoada. Assim a encontrou D. Dinis pelo que a mudou para o sítio atual fazendo-lhe o Castelo e dando-lhe foral em 1296. D. Manuel amplificou as fortificações e a Vila, e deu-lhe Foral Novo, em Santarém, no 1º de Junho de 1510.

A toponímia tem tradução literal do árabe: «Terra Plana», o que faz perfeito sentido visto que o território do concelho é em grande parte zona planáltica. Atravessando o concelho de sul para norte, e sendo um dos poucos rios portugueses que corre neste sentido, o rio Côa abre um abrupto vale nessa meseta, dividindo o município em duas partes bem vincadas. As três vilas medievais do concelho ocupam posições estratégicas na defesa deste vale – Almeida e Castelo Bom na margem leste, Castelo Mendo na margem ocidental. Historicamente muito disputado, marcou, até ao Tratado de Alcanizes, a fronteira entre os reinos de Portugal e de Leão.

Uma curiosidade da Vila prende-se com as várias versões para origem do nome Almeida. Mas o que todos concordam é que o nome é de origem árabe. Uns referem que vem do árabe Al Mêda e que significa a mesa, pelo facto da povoação se encontrar situada num vasto planalto – no planalto das mesas. Há também quem afirme que vem do árabe Atmeidan que significa campo ou lugar de corrida de cavalos. Frei Bernardo de Brito, natural de Almeida e cronista-mor do reino, afirma derivar, Almeida, da configuração do terreno em que a Vila se encontra edificada e cujo nome original é Talmeyda. A lenda diz que a sua origem vem de uma mesa cravejada de pedras preciosas que em tempos existiu naquele lugar. De tantas versões o que parece certo é que o termo Almeida tem a sua origem árabe, dado que o prefixo ‘al’ é dessa proveniência.

17991718_1449450351795041_6052034473897646380_o17991337_1449450131795063_2169022680314712057_oO nosso percurso começou entrando de carro pelas Portas Duplas de Santo António. A Porta Interior, ou Magistral, data do século XVII e foi projetada por Jerónimo Velho de Azevedo. Apresenta cobertura abobadada à prova de bomba, com trânsito acentuadamente curvilíneo e descendente em relação ao exterior da Praça. Dispõe, em ambos os lados, da passagem de vasto Corpo de Guarda com lareira, latrinas e pias, além de prisão. Estacionamos e viemos admirar as portas em todo o seu esplendor. Uma imponência bem demarcada pelo tipo de construção e amplitude.

Supõe-se que a sua origem seja de fundação muçulmana ou leonesa. Presumivelmente, o segundo castelo surge da reedificação do anterior no reinado de D. Dinis, finais do séc. XII. De estilo gótico, a sua planta de edificação não apresenta mais do que 100m, sendo inclusive considerado dos mais pequenos na zona de fronteira. No período de D. Manuel I sofre nova reforma com projeto da autoria de Francisco Danzilho. A reforma do séc. XVIII refuncionalizou-o assumindo a função de armazém de munições e pólvora. Em 26 de agosto de 1810, durante o cerco da III invasão francesa, dá-se a explosão que dita a ruína do castelo outrora erigido por D. Dinis. Consegue-se circular facilmente pelas ruínas por um passadiço que as circunda Nós optamos por voltar à estrada e caminhar em direção ao jardim de Almeida.

No caminho até ao jardim pudemos observar as suas casas brasonadas, tais como, a Casa Grande, a Casa Brigadeiro Vicente e a Casa dos Vedores Gerais. Pelas ruas estreitas da vila, característica já presenciada em outras aldeias históricas, as casas apresentam-se bastante apessoadas, de escadarias floridas e varandas coloridas.

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Chegamos ao jardim, que fica num recanto muito aconchegante. O seu verde predominante e abraça-nos com vontade de por ali permanecer por uns instantes. Nos seus bancos castanhos podemos apreciar o coreto ali existente, as conversas de ocasião e o burburinho típico de uma localidade pacata.

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Seguimos em direção à Torre do Relógio, que se localiza na zona arqueológica do Castelo e da já desaparecida (1810) Igreja Matriz da Nossa Senhora das Candeias, possivelmente aproveitando as fundações da sua torre. De planta quadrada, mostra quatro aberturas sineiras acessíveis por escadas interiores de madeira. Oscilando entre a sobriedade do Neoclassicismo e o exotismo do Barroco, sobressai na malha urbana dada a sua volumetria vertical.

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Dali fomos almoçar. Sabemos que nesta zona abundam os enchidos e a carne de porco, bem como as carnes de cabrito, anho ou borrego. Optamos por comer cabrito, e que bom que estava! De barriguinha bem composta, e com uma prova de licor à mistura, seguimos caminho em direção às Portas Duplas de São Francisco da Cruz.

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A Porta Exterior é já do séc. XIX, mas a Interior ou Magistral contém o portal monumental do séc. XVII, atribuído a Pierre Garsin (segundo o Tratado de Antoine de Ville). As cortinas laterais da muralha em ambos os lados da Porta foram reformadas após as brechas causadas pelo Cerco de 1810. É uma Porta igualmente imponente e que nos faz viajar no tempo.

Um pouco mais à frente encontra-se o Picadeiro D’El Rey, que funcionou originalmente como Trem de Artilharia e Arsenal, mas que já sofreu inúmeras adaptações. Nele existiram as forjas para a manufatura e reparação do equipamento bélico, e esteve instalado, também, um quartel de artilharia e a Fábrica do Pão. Tudo caiu em ruínas na sequência dos bombardeamentos do século XIX. Mantém o portal coroado com as armas reais, o edifício das manjedouras, o muro circular e as paredes laterais com contrafortes. Foi restaurado no final do século XX como picadeiro para prática de pequenas atividades equestres.

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A partir dali podemos circundar a fortaleza e encontrar o Paiol e Casa da Guarda, construídos no século XIX, que se ocalizam no revelim de Santa Bárbara. O Paiol é ladeado por um fosso que se destaca pela sua originalidade, dimensão e destina-se a armazenar pólvora e munições, constituindo um elemento essencial do complexo sistema abaluartado de defesa.

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A Praça Alta, localizada no baluarte de Santa Bárbara, é ponto mais elevado de toda a estrutura da fortaleza. Foi outrora o centro nevrálgico para a vigilância das movimentações das tropas sitiantes. Hoje é um local de eleição para o visitante contemplar a panorâmica da vila. Uma outra possibilidade de panorâmica seria sobrevoar a zona, talvez com uns balões de ar coloridos! Quiçá um investimento futuro de alguém para dar um colorido ainda maior a esta bela vila, que na sua traça se distingue das construções da época.

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Embarcamos em direção a outro destino, daqueles que nos tranquilizam, e que nos fazem viajar no tempo.

Em jeito de despedida ficam algumas sugestões que vos podem ser muito úteis.

Onde ficar?
Hotel Fortaleza de Almeida
• Casa do Ti Messias
O Revelim

Onde comer?
• Restaurante A Muralha
• Granitus
• Mercearia com Alma

Calendário de Festividades?
• Cerco de Almeida (aconteceu nos dias 24, 25 e 26 de agosto de 2018)
• Festa em Honra da Nossa Sra. das Neves (aconteceu nos dias 11 e 12 de agosto de 2018)
• 1810 e os Mistérios da Queda de Almeida (aconteceu nos dias 18 e 19 de maio de 2018)

Locais próximos a visitar?
• Malpartida
• Castanheira
• Sabugal

Encontramo-nos no próximo destino. Novembro será o mês de Belmonte.

Até lá boas descobertas.


link-symbol_icon-icons.com_56927 Ver também

Á descoberta de Almeida: o que visitar
Zeneando por Castelo Rodrigo
Zeneando por Trancoso
Zeneando por Castelo Mendo

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