Zeneando por Belmonte
Belmonte é terra de judeus, vila medieval e berço de um bravo navegador. Logo à partida pareceu-nos ter aqui uma tríade intensa e rica em emoções e conhecimentos. Não é todos os dias que se tem a oportunidade de cruzar com séculos de história. Belmonte e a vizinha Covilhã, apesar de situados no interior de Portugal, estão conotados, como poucas regiões portuguesas, com os Descobrimentos marítimos Portugueses. Entre as curiosidades que permeiam a história da vila está o facto de que o descobridor do Brasil no século XV, o navegador Pedro Álvares Cabral, ter nascido em Belmonte.
Venham daí connosco e deixem-se deliciar com a riqueza dos monumentos e a simplicidade dos momentos.
O mês de Novembro é de Belmonte
Belmonte é uma vila portuguesa do distrito de Castelo Branco, na província da Beira Baixa.

Um pouco de história…
O Homem ocupou estas terras desde a Pré-história, como atestam os vestígios megalíticos com cerca de 6 mil anos nas freguesias de Inguias e de Caria. Igualmente importantes são os sinais da proto-história, que assumem novos conceitos e estratégias de ocupação do território. Nesta época privilegiavam-se os cumes dos relevos montanhosos como forma de domínio territorial e de ostentação social – como é exemplo o castro da Chandeirinha, na Serra da Senhora da Esperança. Verdadeiramente marcante, neste concelho, foi a presença romana. Atraídos pela riqueza mineira e agrícola desta região, depressa se aperceberam da importância estratégica e económica deste território atravessando-o com vias. Surgem, assim, as villae da Quinta da Fórnea, na freguesia de Belmonte, e de Centum Cellae, na freguesia de Colmeal da Torre que, com a sua imponente torre, é um dos mais monumentais sítios da época romana de Portugal, que tem sido alvo de várias interpretações históricas e arqueológicas.

Belmonte é um Concelho quase tão antigo como a nacionalidade. A vila de Belmonte teve foral em 1199 e está situada no panorâmico Monte da Esperança (antigos Montes Crestados), cujo morro mais rochoso foi construído nos finais do séc. XII. O seu castelo, juntamente com os castelos de Sortelha e Vila de Touro, formaram, até à assinatura do Tratado de Alcanices (1297), a linha defensiva do Alto Côa, apoiada na retaguarda pela muralha natural da Serra da Estrela e pelo Vale do Zêzere. Em 1199, D. Sancho I e o Bispo de Coimbra outorgaram Carta de Foral a Belmonte com o intuito de “povoar e restaurar”, assegurando, desta forma, o controlo político da região pela coroa portuguesa.
Em 1258, D. Afonso III concedeu ao bispo de Coimbra, D. Egas Tafes, autorização para a construção da torre de menagem e do castelo nas terras deste concelho. No séc. XIII, Belmonte é já uma vila bastante povoada por cristãos e judeus, justificando a existência de duas igrejas (S. Tiago e S.ta Maria) e uma sinagoga. A administração militar (alcaidaria) de Belmonte foi entregue por este rei a Aires Pires Cabral, da família senhorial dos Cabrais.
Na sequência das Guerras Fernandinas e da Crise de 1383/85, atendendo a que “o seu castello de bellmonte he muy despouado por rezam desta guerra”, D. João I concederia Belmonte, por Carta de Couto ao Bispo de Coimbra e, em 1397, à família de Álvaro Gil Cabral, nomeando alcaide do castelo Luís Álvares Cabral, que herdara em Belmonte o morgadio instituído por sua tia Maria Gil Cabral. Em 1466 a família Cabral fixa-se definitivamente em Belmonte, aquando da doação a título hereditário da Alcaidaria-mor do Castelo a Fernão Cabral, recebendo também doação régia de todas as rendas, foros e direitos da vila de Belmonte, de «juro e herdade».
Por ser tempo de guerras contra leoneses e castelhanos, o castelo de Belmonte foi sendo melhorado nos reinados de D. Afonso III, D. Dinis e D. João I. A bravura e a lealdade da família dos Cabrais, foi sempre lendária e temida, sobretudo a do seu primeiro Alcaide-mor – Fernão Cabral, que uma vez nomeado a título definitivo e hereditário, em 1466 por D. Afonso V, transformará o castelo numa Residência Senhorial Fortificada, onde seu filho Pedro Álvares Cabral viverá os seus primeiros anos de vida.
No séc. XIII atesta-se a existência de uma já próspera comunidade Judaica, responsável pela existência de uma sinagoga de que resta uma inscrição datada de 1296, que provavelmente viveria numa judiaria localizada no atual bairro de Marrocos. Em consequência da expulsão dos judeus de Espanha em 1492, pelos Reis Católicos é provável que esta comunidade tenha aumentado, até que em 1496, D. Manuel I decreta a conversão forçada ao catolicismo, seguindo-se uma série de perseguições e a criação de uma comunidade cripto-judaica que sobreviveu ao longo dos séculos, mantendo os seus rituais e tradições. É ainda o mesmo monarca que em 1510 renova o foral de Belmonte.
Em 1527, Belmonte tinha a segunda maior densidade populacional na comarca de Castelo Branco, e era uma comunidade rural dependente da pecuária e da agricultura e com algum comércio praticado maioritariamente por Judeus. Em 1989 foi oficialmente criada a comunidade judaica de Belmonte, cuja sinagoga foi inaugurada em 1997, atualmente é uma das poucas comunidades com Rabi.
Passeando por Belmonte…
Quando planeamos a visita a Belmonte deparamo-nos com muitos espaços culturais e artísticos existentes neste pequeno pedaço de terra. Ficamos muito curiosos em relação a muitos deles, mas não nos decidimos por nenhum. Haveríamos de iniciar a aventura e deixar fluir com o tempo. Tínhamos marcado bem alguns pontos de referência e lá seguimos à aventura.
E assim fomos, e ainda bem, porque o almoço tornou-se tão saboroso e a conversa tão calorosa que por ali ficamos em palavras e trocas de conhecimentos. Demos um bocadinho da nossa essência de minhotos e recebemos muito das costelas beirãs. Bem, isto das costelas tem muito que se lhe diga, porque mais não se tratou senão de uma alegria única e um sentimento tão belo quanto aquele de ser lusitano. Visitamos Belmonte no outono e portanto os dias já se estavam a tornar mais curtos, portanto apesar de a conversa estar boa, pusemos os pés ao caminho e começamos a visita no Castelo. Um marco imponente da Vila.




O Castelo de Belmonte, do qual resta a Torre de Menagem e um largo que permite descer pela calçada romana em direção à antiga judiaria, foi declarado Monumento Nacional em 1927, está localizado no topo da colina. Em 1992 foi aqui construído um anfiteatro que tem vindo a receber espetáculos variados ao longo dos anos.

Na antiga Torre de Menagem há uma exposição permanente de diversos itens encontrados em escavações no local. Tivemos a sorte, aquando da nossa visita, de podermos ver de perto a carta original enviada por Pêro Vaz de Caminha ao Rei D. Manuel onde comunicava a descoberta (ou “achamento”) do Brasil em 1500. Esta carta foi cedida provisoriamente pela Torre do Tombo.
Na sua fachada não deixem de espreitar pela janela manuelina e admirar a localização privilegiada, com vista para a Cova da Beira e a Serra da Estrela.
A construção fortificada integra uma invulgar variedade de estilos arquitetónicos, tendo traços românicos, góticos, manuelinos e setecentistas. Mesmo em frente ao Castelo visitamos a Capela de Santo António e do Calvário.
Seguimos a caminhar pelo aglomerado de casas em pedra existentes perto do Castelo. Casas bem adornadas de cerâmicas, simbologias à época e particularidades, tais como sinaléticas indicando casas de famílias judias.



Uns passos mais à frente pudemos visitar a Sinagoga Bet Eliahu que foi inaugurada em 1996, na altura em que se assinalavam os 500 anos do Édito de D. Manuel, que ordenava a expulsão de judeus e muçulmanos do território português.
A comunidade judaica de Belmonte conseguiu, apesar da pressão e perseguição de que foi alvo ao longo dos tempos, preservar as suas tradições e rituais em segredo. A Sinagoga poderá ser visitada de Domingo a 2ª feira, mediante marcação prévia junto da Empresa Municipal de Belmonte.
Ainda perto do Castelo, podemos encontrar a Igreja de Santiago e Panteão dos Cabrais, que data de 1240 e está localizada num dos caminhos de peregrinação a Santiago de Compostela e era um dos locais a que os peregrinos recorriam no decorrer do seu percurso. Junto à Igreja encontra-se ainda o Panteão dos Cabrais onde estão guardadas as cinzas de Pedro Álvares Cabral e outros membros da família.
Nas ruas circundantes ao Castelo encontra-se o Museu Judaico e o Museu dos Descobrimentos (situado no Solar dos Cabrais), que embora não tenhamos tido oportunidade de visitar gostávamos de deixar sugestão, uma vez que cada um na sua temática possuem elementos de elevado interesse e são marcos importante da Vila, que merecem ser vividos e revividos, para que a História nunca se esqueça.
O dia aproximava-se da noite e nós com imensa curiosidade de visitar a tão falada Torre de Centum Cellas, que está localizada em Colmeal da Torre, a cerca de 5 km do centro de Belmonte.


Diz-se que Centum Cellas foi uma vila Romana com origens no século I d.C. No entanto a sua funcionalidade ainda se mantém um mistério. Há quem diga que possa ter sido um templo, uma prisão ou uma albergaria para viajantes. Ficamos por ali a contemplar tamanha grandiosidade, as ruínas estão acessíveis ao público em geral, são de acesso fácil e aquela proximidade torna-se mais intimista. Deixamos um último olhar para Belmonte, que ali do Colmear da Torre se vê bem ao longe, lá do alto do seu Castelo, da sua História e das suas Gentes. Uma agradável surpresa de tornou esta Vila para nós.
Em jeito de despedida ficam algumas sugestões que vos podem ser muito úteis.
Onde ficar?
- Belmonte Sinai
- Casa Miriam
- Pousada Convento de Belmonte
Onde comer?
- Casa do Castelo
- Fio de Azeite
- O Brasão
Calendário de Festividades?
- Feira Medieval de Belmonte (aconteceu nos dias 10, 11 e 12 de agosto de 2018)
- VIII Mercado Kosher de Belmonte (a decorrer dia 14 de outubro de 2018)
- Festa das Luzes (a decorrer nos dias 7, 8 e 9 de dezembro de 2018)
Locais próximos a visitar?
- Vila de Caria
- Colmeal da Torre
- Inguias
Encontramo-nos no próximo destino. Dezembro será o mês de Idanha-a-Velha.
Até lá boas descobertas.
Ver também
Zeneando por Castelo Rodrigo
Zeneando por Trancoso
Zeneando por Castelo Mendo
Zeneando por Almeida
Serra da Estrela e Covilhã: pela rota da nove e da lã
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