Zeneando por Idanha-a-Velha
Idanha-a-Velha é uma aldeia estruturada à medida das suas gentes e das suas necessidades, nunca esquecendo o património cultural e arquitetónico subjacente. É uma aldeia longínqua, protegida por uma muralha imponente e cheia de vestígios dos povos que por lá passaram. Outrora de nome Egitânea, conserva os traços dos diferentes períodos da sua história: edifícios da Pré-História, Celtas, Romano, Visigótico, Árabe, Idade Média e períodos manuelinos portugueses. Lendas, histórias ou verdades, venham dai conhecer mais um pedacinho do nosso encantado país.
O mês de Dezembro é de Idanha-a-Velha.
Um pouco de história…
Idanha-a-Velha é uma aldeia e uma antiga freguesia no concelho de Idanha-a-Nova, centro-oriental de Portugal. Uma pequena vila que parece adormecida entre os olivais, mas cujo passado histórico teve uma importância testemunhada pela catedral e pelas inúmeras ruínas, transformando-a num museu ao vivo, que ocupa um lugar de realce no contexto das estações arqueológicas do País.
Ergue-se no espaço onde outrora existiu uma cidade de fundação romana (séc. I a.C.), inserida no território da Civitas Igaeditanorum, tendo sido, mais tarde, município romano. No ano 105, a povoação aparece referida numa inscrição da monumental ponte de Alcântara – importante obra de engenharia romana – como um dos municípios que contribuíram para a sua construção. Diversos vestígios evidenciam, ainda hoje, essa permanência civilizacional, entre outros, destacamos o podium de um templo no qual assenta a Torre dos Templários; a Porta Norte e a respetiva muralha; e um conjunto excecional de lápides funerárias e variado espólio disperso.
A povoação conheceu no período visigótico, sob o nome da Egitânea, momentos áureos de desenvolvimento, tendo sido sede de diocese, desde 599, e centro de cunhagem de moeda em ouro (trientes). São testemunhos materiais desse período, o Batistério e ruínas anexas do “Palácio dos Bispos” e a designada “Sé-Catedral”, que foi sujeita a profundas alterações arquitetónicas posteriores.
Os Árabes ocuparam a cidade até à sua tomada por D. Afonso III, Rei de Leão, durante a reconquista. Mais tarde, D. Afonso Henriques entregou-a aos Templários. Em 1229 D. Sancho II deu-lhe foral e em 1319 D. Dinis incluiu-a na Ordem de Cristo. D. Manuel I, em 1510, institui-lhe novo foral de que o Pelourinho ainda é testemunho. Em 1762 figurava como vila, na comarca de Castelo Branco, e em 1811 ficava anexa a Idanha-a-Nova.
Intencionalmente, e ao longo dos séculos, pretendeu-se reorganizar todo o espaço urbano, revitalizando-o no domínio social, económico, politico e cultural. Porém o seu percurso histórico, de desertificação, estava traçado. Hoje, Idanha-a-Velha (Monumento Nacional), surge renovada.
Passeando por Idanha-a-Velha…
Quando fizemos a rota das aldeias históricas escolhemos Idanha-a-Velha como o primeiro local a visitar, por se localizar geograficamente mais distante da nossa cidade de partida. Mas quando realizamos as primeiras pesquisas verificamos que seria uma aldeia rica em património, bastante preservado e com uma estratégia local (com entidades estatais) bem delineada. O património construído de Idanha-a-Velha é fruto da presença de inúmeros povos que aí se estabeleceram e foram adaptando e reformulando os espaços e os edifícios ao longo dos séculos de ocupação territorial.
Ao chegar a Idanha-a-Velha, a entrada para o interior da aldeia faz-se por uma cerca muralhada, de forma ovalada, com uma extensão de cerca de 745 metros. São-lhe conhecidas duas entradas e sete torres defensivas – quatro semicirculares e três quadrangulares. A Porta Nova possui 3 arcos de volta perfeita, todos assentes em impostas salientes e flanqueada por dois torreões semicirculares. Daqui partiria a via que se dirigia para Braga.
Junto às suas muralhas e próximo da Porta Sul, encontram-se fragmentos de ruínas romanas de uma habitação (séculos I-III) que se estendeu para limites exteriores à muralha, tendo sido fragmentada no momento de regressão da malha urbana (século IV).
Seguimos em direção à Sé Catedral. Pelo caminho fomos abordados por um habitante que nos convidou a entrar no seu pequeno comércio, com direito a prova de queijos e mel. Ficamos logo com a certeza de que ia ser uma viagem doce e calorosa. Uma aldeia que sabe receber as gentes que os visitam.
Chegamos à Sé Catedral, também conhecida por Igreja de Santa Maria. É um edifício dos princípios do Cristianismo, com uma forte intervenção no período manuelino. A configuração actual da igreja deve-se aos trabalhos de restauro (nos finais do século XVI), feitos com a intenção de aproximar o templo à sua forma primitiva.
O local escolhido para a implantação deste templo tem uma longa tradição de sacralidade (desde o século IV), mas é durante o domínio muçulmano que será construída a igreja que é a matriz arquitetónica do edifício que chegou até nós. O templo terá sido erguido pela comunidade local moçarabe nos finais do século IX, altura em que a diocese foi momentaneamente restaurada. Esta notável peça arquitetónica de arte moçarabe atesta a vitalidade da cidade na época muçulmana, o que mais tarde converteu o templo num espaço de culto islâmico. Em meados do século XIII encontrava-se em ruínas, tendo sido recuperado pelos Templários para fazerem aqui a sua igreja, dedicada a Santa Maria. Esta reforma consolida o limite norte do espaço de culto, introduz um campanário sobre o lado nascente da empena da fachada norte, formado por dois arcos simétricos de volta perfeita e um pequeno óculo na parte mais alta.
Espreitando pela Porta Sul podemos dar de caras com o rio Pônsul e com uma das passagens de margens com Poldras. A passagem faz-se sobre reaproveitamentos de silhares romanos, num total de 43. Foi um momento de descontração e vislumbre da Sé ao fundo e das suas ruínas ali expostas ao ar livre.
A Torre dos Templários fica logo ali ao lado. De construção militar do século XIII foi erguida no espaço do forum romano (século I), sobre o podium – o que resta de um templo romano dedicado possivelmente a Vénus. Deste ponto mais alto, domina-se uma paisagem excecional com uma visão de conjunto sobre a aldeia.
Dali seguimos até à Igreja Matriz e à praça do Pelourinho, que são dois marcos importantes da aldeia, e nela se encontram elementos caracterizadores relevantes da sua importância cívica e religiosa. O Pelourinho é de estilo manuelino e classificado como Imóvel de Interesse Público. O Edifício dos Antigos Paços do Concelho e a atual Igreja Matriz apresentam estilo renascentista (século XVIII) com influências populares.
Continuando a circundar a muralha descobre-se a Ponte de origem romana, elo de ligação do importante eixo viário entre Mérida (Emérita Augusta) e Braga (Bracara Augusta), que teve várias reconstruções ao longo da Idade Média. Nas férteis margens do Rio, podem ser vistas, ainda hoje, as hortas da aldeia, muito importantes na sobrevivência do povo. Um ótimo local para assentar e apreciar todo o percurso, fantasiar sobre todas as influências que Idanha-a-Velha conheceu e perceber como a riqueza de culturas também é a riqueza das suas gentes.
Apesar de pouco desenvolvida a nível de oferta gastronómica e de alojamento, bem como a nível de divulgação de eventos, a aldeia ganha na sua autenticidade e forma, pela sua simplicidade e entrega a quem a visita.
Em jeito de despedida ficam algumas sugestões que vos podem ser muito úteis.
Onde ficar?
- Monsanto GeoHotel Escola (Monsanto)
- Casa da Gruta (Monsanto)
- Casa da Tia Piedade (Penha Garcia)
Onde comer?
- Café Egitaniense
- Restaurante Helana (Idanha-a-Nova)
- Taverna Lusitana (Monsanto)
Calendário de Festividades?
- “Nas terras do Rei Wamba… Há sementes” (aconteceu nos dias 2, 3 e 4 de novembro de 2018)
- “Casqueiro – Festival do Pão, Bolos e Tradições” (aconteceu nos dias 9,10 e 11 de outubro de 2018)
Locais próximos a visitar?
- Idanha-a-Nova
- Castelo Branco
- Penha Garcia
Encontramo-nos no próximo destino. Janeiro será o mês de Monsanto.
Até lá boas descobertas.
Ver também
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