Zeneando por Castelo Novo
Mais uma aldeia histórica integrada na rede das 12 aldeias, Castelo Novo, porque um “Castelo Velho” não seria suficiente para proteger das invasões (à época), assim como nós não podemos, nem devemos esquecer, que para construir um caminho novo temos de deixar os velhos para trás.
Viajar permite-nos isso também, permite-nos explorar, desbravar, encarar os nossos medos, os nossos limites, sair da nossa zona de conforto e não há nada mais reconfortante do que abraçar um novo cenário e fazer dele o nosso lugar naquele momento.
Castelo Novo é um encanto por toda a oferta visual que encara, desde a vista até à serra, o rio que a abraça, às suas formações rochosas, passando pela sua calçada romana e pelo alto do seu castelo. Vamos daí e pense em fazer já as malas.
O mês de março é de Castelo Novo
Um pouco de História…
Castelo Novo começou por pertencer aos extensos territórios doados pelos monarcas portugueses à Ordem dos Templários, depois Ordem de Cristo, para, em terras da Beira, promoverem e assegurarem a posse dos domínios conquistados aos muçulmanos no séc. XIII.


Com D. Manuel I, já na centúria de Quinhentos, recebe foral, encontrando-se bem testemunhada a intervenção deste rei no património arquitetónico da antiga vila. A estrutura de ocupação do espaço é caracteristicamente medieval, sendo significativas as intervenções do período Manuelino (séc. XVI) e Barroco (séc. XVIII).
O Castelo, implantado a 650 m de altitude, constitui um ponto evidente de organização do povoado. A povoação estendeu-se pela encosta da Serra da Gardunha. Apesar de desprovida de cerca, estava abrigada da estrutura fortificada dos Templários. A antiga vila surge assim inscrita num perímetro de configuração circular. A estrutura urbanística oferece um aspeto labiríntico. No espaço construído de Castelo Novo dominam, largamente, as edificações destinadas à habitação. A casa tradicional, de granito e sem reboco, apresenta planta retangular com dois pisos, com o térreo destinado à loja e o superior à habitação.
Exceção nesta paisagem urbana constituem os edifícios de natureza pública e religiosa, bem como a habitação de proprietários mais abastados, distinguindo-se quer pelos materiais utilizados quer pela conceção arquitetónica e investimento decorativo.
Passeando por Castelo Novo…
Chegamos a Castelo Novo pela manhã e o movimento era pouco. À entrada da aldeia pudemos passear junto à praia fluvial, banhada pela Ribeira de Alpreade. Na altura estava com pouco água porque fomos no inverno, mas soubemos, por trabalhadores da junta, que no verão fecham as comportas e ficam umas piscinas naturais muito agradáveis. Junto ao espaço existe uma zona de lazer com algum relvado e um bar de apoio. Fica a dica para um mergulho no verão, a nós deixou-nos com vontade de voltar.
Foi um ótimo começo de caminhada e ficamos logo com a ideia que de iríamos ser surpreendidos ao longo do percurso. Porém não deixamos o carro por aí, subimos mais um pouco até ao povoado.
Mesmo antes de começar o aglomerado habitacional podemos vislumbrar o Cabeço da Forca. Na pedra superior é possível ver os orifícios retangulares onde estavam assentes as estruturas da Forca, onde noutros tempos as pessoas eram punidas quando cometiam um crime. Na altura que visitamos os três orifícios estavam adornados por três cruzes.
Uns passos mais à frente junto ao largo da Misericórdia encontramos o Chafariz da Bica, um imóvel construído no século XVIII e de influência barroca. Apresenta um enquadramento imponente com acesso por uma escadaria e toda uma envolvência rochosa.
Sempre lá no alto, bem à vista, o Castelo espreita. Até lá chegar o percurso é delicioso, sentimo-nos como viajantes parados no tempo. Todos os edifícios estão sobejamente dispostos e preservados, apesar de a aldeia ser de um ordenamento confuso, com muitas ruas estreitas, mas também mostrando um cuidado especial.
Percorrendo desde o largo da bica até à praça do pelourinho e dos Paços do Concelho, pudemos ver muitas casas imponentes em granito. Eis que chegamos a uma grande praça, onde está a Antiga Casa da Câmara, um edifício inserido nas tipologias românicas, outrora com funções políticas e administrativas. Estima-se que a sua construção seja de 1290, por ação de D. Dinis, mas sofre obras de remodelação por ordem de D. Manuel I. O objetivo da remodelação, que implicou incluir no edifício as armas reais, a cruz da Ordem de Cristo e a esfera armilar, foi marcar atribuição de novo foral a Castelo Novo. No piso térreo estaria localizada a cadeia e no primeiro piso funcionaria a câmara.
Entre passos e brincadeiras demos muitas gargalhadas. Parece que adivinhei (Mónica) as cores das portas em madeira e consegui passar despercebida em algumas casas. As ruas empedradas com as suas casas e varandas floridas dão a Castelo Novo uma nova vida a cada esquina. Respira-se ar puro a cada passo.
A caminhada até ao Castelo é fácil de fazer, sempre em plano reto e mesmo a circundar o Castelo existe um passadiço para facilitar a chegada ao mesmo.
Da arquitetura militar salienta-se a existência de um castelo do qual, atualmente, só resta uma torre quadrangular. Parte desta foi aproveitada para edificar um campanário, que se pode observar sensivelmente sobre a torre. Recentemente, entre 2002 e 2004, foram desenvolvidas três campanhas de escavações arqueológicas no castelo, no âmbito do Programa Aldeias Históricas de Portugal, que colocaram a descoberto centenas de vestígios da sua ocupação medieval – entre a sua construção no século XII e o seu abandono por volta do século XVII. Moedas portuguesas dos reinados de D. Sancho I (1169-1210) até ao de D. João III (1521-1557), peças metálicas em ferro e em cobre, peças de cerâmica, entre outras, que podem ser apreciadas no Núcleo Museológico de Castelo Novo, nas dependências da antiga Casa da Câmara, requalificada como museu histórico-arqueológico.
As vistas para a aldeia e para a Serra da Gardunha são magníficas. Apesar de já restar pouco do Castelo Novo, a imaginação faz logo outros cenários e a magia acontece.
No caminho de volta para o carro pudemos passar pelo cruzeiro. À semelhança do que se fez em todo o país, também em Castelo Novo, em 1940, se edificou um cruzeiro de comemoração de duas datas heróicas – III Centenário da Restauração e o VII da Independência Nacional.
Como boa Minhota e amante dos vestígios romanos, o que mais me fascinou foi o facto de a aldeia ser atravessada por uma via em calçada, referenciada como tendo essa origem. A esta via não será estranho o arco de ponte de feição românica (séc. XII), localizado no início da subida para a aldeia, no ponto em que a estrada cruza a Ribeira de Alpreada, testemunho da anterior travessia na época romana e medieval (junto à praia fluvial).


Foi um pequeno percurso que fizemos pela calçada para fechar o nosso ciclo por ali, uma aldeia tão simples, tão bela e tão encantadora.
Onde ficar?
- Casa de Campo Villa Veteris
- Casa de Castelo Novo
- Casa Petrus Guterri
Onde comer?
- O Lagarto
Calendário de festividades?
- A Grande Batalha da Gardunha (decorreu nos dias 27, 28 e 29 de julho)
Locais próximos a visitar?
- Alcongosta
- Fundão
Encontramo-nos no próximo destino. Abril será o mês de Linhares da Beira.
Até lá boas descobertas.
Ver também
Zeneando por Castelo Rodrigo
Zeneando por Trancoso
Zeneando por Castelo Mendo
Zeneando por Almeida
Zeneando por Belmonde
Zeneando por Idanha-a-Velha
Zeneando por Monsanto
Zeneando por Sortelha
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