Zeneando por Linhares da Beira
Desta vez a rota das aldeia históricas leva-nos até Linhares, mais conhecida por Linhares da Beira, situada no concelho de Celorico da Beira. Uma aldeia cheia de ruas estreitas, História a cada esquina e uma imensidão de granito.
Envolta em montanhas, é conhecida atualmente, como a “Catedral do Parapente”. As condições do local permitiram ver nascer e evoluir esta modalidade de desporto radical, e contribuiu para a projeção internacional desta pequena aldeia medieval.
Em Linhares não se parou no tempo, muito embora com um traço muito próprio e conservado, as épocas cruzam-se e têm uma simbiose perfeita.
O mês de abril é de Linhares da Beira.
Um pouco de História…
Vila de fundação medieval, com foral concedido em 1169 por D. Afonso Henriques, perde esse estatuto, em 1855, com a reforma administrativa liberal. Apesar do local ter conhecido a fixação de povos pré-romanos e existir registo escrito da passagem de romanos, visigodos e muçulmanos, a história de Linhares tem origem no contexto gerado com a reconquista Cristã.
A estrutura de ocupação do espaço da antiga vila de Linhares conjuga, deste modo, um tipo característico de povoamento medieval (séculos XII-XIV), com desenvolvimentos significativos no período quinhentista (século XVI). Nesta centúria a vila terá atingido uma configuração próxima da atual, ainda que no património edificado pesem, pelo impacto no tecido urbano, algumas construções mais tardias (séculos XVII-XIX). O castelo, implantado num cabeço rochoso a cerca de 820 m de altitude e dominando o Vale do Mondego, constitui o núcleo gerador do aglomerado. A povoação estende-se pela encosta.
A vila tem um perímetro triangular, em cujos vértices se situam três espaços ordenadores da malha urbana: o Lg. da Misericórdia, à entrada da povoação; o Lg. de S. Pedro, na zona denominada “Cimo da Vila”; e o Lg. da Igreja, próximo do Castelo e no acesso ao Campo da Corredoura, que é um terreno de usufruto comum. Estes largos definiram-se em torno de igrejas – hoje desaparecida a de S. Pedro – e constituíram o centro das paróquias de fundação medieval. Na base do triângulo e no ponto oposto à Matriz, localiza-se o Lg. do Pelourinho, outrora o centro cívico da Vila.
Da assistência ao peregrino, pobres e doentes sobra-nos o edifício do Lg. da Misericórdia, que acolheu duas instituições – a Albergaria e o Hospital. Também do abastecimento de água, temos para observar três fontes dos séculos XII, XVI e XIX. Podemos visitar também, a casa tradicional e popular, que está disseminada por toda a vila, e as casas nobres dos séculos XVIII-XIX (de proprietários agrícolas mais abastados ou da burguesia local ligada ao comércio) onde se destacam as janelas e portas decoradas ao gosto Manuelino (século XVI). Aliás, sobre a porta de acesso ao bairro – judiaria – figura uma das mais elaboradas janelas manuelinas de Linhares.
Passeando por Linhares…
O caminho até Linhares é ladeado por algumas montanhas, ali pelas Beiras não faltam montes e vales. Há chegada, e de longe, avista-se o castelo, de traço imponente e bem lá no alto, Linhares apresenta-se calma, discreta e muito bem preservada.
Começamos por deixar o carro junto à antiga albergaria e hospital da misericórdia e do seu largo, amplo, pudemos avistar todo um leque de ordenamento e coordenação de casas graníticas.
Não muito longe, passamos pela Igreja da Misericórdia que tem um bonito campanário. Neste mesmo cruzeiro encontra-se ainda o Solar Corte Real, de estilo barroco, e com insígnias heráldicas dos Corte Real. Percorremos por entre ruas estreitas, de casas muito bonitas e restauradas e chegamos ao largo do pelourinho e à Antiga Casa da Câmara e Cadeia que é hoje sede da Junta de Freguesia. Em frente, encontra-se o Pelourinho, datado de 1500, local onde eram aplicados castigos em praça pública a quem tivesse cometido algum crime.
Mais à frente, o Forum e a Fonte de Mergulho de Linhares, um testemunho arquitetónico romano singular que nunca tínhamos presenciado. Antes da construção da Casa da Câmara, era aqui que eram tomadas as principais decisões administrativas, legislativas e judiciais. Em tempos teve uma cobertura de madeira, que cobria os homens que ali se reuniam. Por momentos pusemos a nossa imaginação em ação, e transportamo-nos para aqueles tempos.
Vale a pena apreciar, também,a arquitetura setecentista do Solar Pina Aragão, com uma intervenção posterior datada de 1859, e a Casa do Judeu, um edifício que foi usado em tempos como Judiaria, na altura em que era obrigatória uma separação entre judeus e cristãos. Hoje em dia é um ponto de venda de artesanato. Linhares tem ainda um traçado de calçada romana junto à antiga escola primária da aldeia, este traçado faz parte do percurso que ligava Mérida a Braga.
No que diz respeito ao espólio religioso, podemos admirar a Igreja Matriz de Nossa Sr.ª da Assunção, um edifício datado do século XII, que foi alvo de remodelações por ordem de D. João II no século XVI. No seu interior encontram-se algumas peças valiosas como, por exemplo, 3 pinturas do mestre português Grão Vasco (Adoração dos magos, Anunciação e Descimento da Cruz).
Da Igreja temos uma vista profunda para a aldeia bem como de maior proximidade para a porta Principal de entrada no Castelo, que é o principal cartão de visita de Linhares da Beira. Ergue-se imponente no seu topo, a mais de 800 metros de altitude, visível ao longe a quem percorre a estrada em direção à aldeia, tal como referimos anteriormente.
É possível aceder ao recinto no interior das muralhas do castelo, por um caminho por cima das rochas que lhe dão acesso. Todo o Castelo e suas Muralhas estão assentes em enormes rochas de granito, o que lhe dá uma maior grandeza espacial. As vistas sobre as planícies que rodeiam Linhares são de tirar o fôlego.
Os locais não se podem comparar, igualar ou mesmo distinguir, até porque não são só fruto de si mesmos, não se podem valer apenas pelo que têm de Património, de História, de Passado e de Presente. Eles vão beber a um sem número de fatores, que fazem deles sítios adorados, queridos, amaldiçoados, esquecidos, abandonados ou desejados. Os locais dependem das suas gentes, de quem os habita, de quem os visita. Dependem de tudo e não dependem de nada.
À luz dos nossos olhos não existem locais comparáveis e Linhares mostrou-se a nós como uma agradável surpresa, numa harmonia que encaixou com o nosso espírito aventureiro, fantasioso e selvagem. Linhares da Beira fica na História e ficou na nossa história.
Onde ficar?
Inatel Linhares da Beira
Agroturismo A Fidalga
Casa Pissarra
Onde comer?
Restaurante Cova da Loba
Calendário de festividades
Festival Nacional de Parapente (decorreu de 11 a 15 de agosto de 2018)
Locais próximos a visitar
Carrapichana
Fornos de Algodres
Aldeia da Serra
Encontramo-nos no próximo destino. Maio será o mês de Piodão.
Até lá, boas descobertas!
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