Zeneando por Piódão
A aldeia deste mês é a mais badalada, a mais querida, a mais falada, a mais icónica, a mais distinta e a mais premiada das aldeias históricas de Portugal.
Numa primeira perspetiva, Piódão parece uma aldeia perdida, escondida e envergonhada. Percorremos a Serra do Açor e nada da aldeia aparecer! Podemos pensar que estamos no caminho errado, mas não, só mais um pouquinho e ela aparece, disposta em socalcos, com as suas casas em xisto e lousa de portadas e janelas azuis. A sua disposição valeu-lhe o nome de “aldeia presépio”.
Envolta em misticismos, Piódão respira tranquilidade e curiosidade. Porque terá a aldeia crescido naquelas formas? Venham descobrir e aproveitem a sugestão para uma visita nos dias de maior calor.
O mês de maio é do Piódão.
Um pouco de História…
O Piódão, aldeia classificada como “Imóvel de Interesse Público”, localiza-se na Serra do Açor, em escarpa abrupta, de traçado sinuoso, que se adapta à “rugosidade do espaço envolvente”. Tem a sua origem na época medieval, com o nome Casas Piódam (séc. XIII). No Numeramento Joanino de 1527, o primeiro recenseamento populacional nacional, Piódão aparece inserido na vila de Avô, como casall do piodão, com apenas dois moradores. Mais tarde integra a Freguesia de Aldeia das Dez, da qual é desanexado em 1676. Em 24 de Outubro de 1855, passa a fazer parte do Concelho de Arganil, quando o concelho de Avô é extinto. No entanto, no que respeita à jurisdição religiosa mantém-se ligado ao arciprestado de Avô. Nos finais do séc. XIX, o Cónego Manuel Fernandes Nogueira funda um Colégio no Piódão, que funcionou entre 1886 e 1906. Este Seminário juntou muitos jovens, criando um polo cultural de grande importância para a zona.
A aldeia do Piódão é caracterizada pela sua disposição em anfiteatro, o chamado presépio de xisto, composta de casas de grande consistência formal, arquitetónica e estética. O casario, em alvenaria de pedra de xisto, tem cobertura de lajes no mesmo material. As janelas, de pequena modulação têm, tal como as portas, cor nos aros. As atividades agrícola e pastorícia continuam agora, como no passado, a ser dominantes no modo de vida dos habitantes do Piódão, encaradas essencialmente como forma de subsistência e sobrevivência. Ainda que não possamos esquecer o peso que o turismo começa a ter na região.
Passeando pelo Piódão…
Visitamos o Piódão em pleno verão, mas ela é uma aldeia igualmente bonita qualquer que seja a estação do ano. Como estava calor, a nossa primeira paragem foi na praia fluvial que está à entrada da aldeia, num recanto muito protegido. É uma praia com vigilância e tem ótimas condições – balneários, espaço relvado e mesas para piquenique.
Passamos um bom tempo por ali. Refrescar era palavra de ordem 🙂
Voltamos à estrada, estacionamos a mota e começamos a caminhada pela aldeia. No largo da Igreja Matriz existe um grande reboliço, ali é o centro de todos os acontecimentos. Ao nosso lado direito está o Posto de Turismo e o Núcleo Museológico da aldeia, no lado esquerdo existem alguns restaurantes, bares e lojas de lembranças e licores. É difícil resistir à prova de alguns licores.
A Igreja Matriz, dedicada à Nossa Senhora da Conceição, é um marco da aldeia, por um lado, pela sua forma arquitetónica, por outro, pelas suas cores diferenciadoras das casas típicas de xisto, que dão corpo à paisagem. O templo foi edificado na segunda metade do séc. XVIII. Nos finais do séc. XIX a fachada ameaçava ruír, o que lhe valeu uma intervenção de restauro e ampliação (1898-1900), que estabeleceu a fachada atual com 4 robustos contrafortes cilíndricos, elevados em relação ao corpo da nave. Acede-se ao templo por uma larga escadaria em xisto.
Circular pelas ruas da aldeia é tarefa obrigatória. Piódão tem como característica bem vincada que são as suas escarpas. Parece que as casas se foram amontoando e segurando umas nas outras. Consta que este fenómeno é resultado da abundância de água que existia na região. O passeio pela aldeia é relativamente curto, mas somos sempre surpreendidos por artefactos singelos e aspetos vincados de um lugar que parece viver do que a própria terra oferece. Destacamos a Eira (espaço que era utilizado para secar e malhar as colheitas de cereais) e o Forno do Pão. Tal como em muitas outras aldeias isoladas, também Piódão viveu muito do espírito comunitário, essencial para a sobrevivência das respetivas comunidades.
Não é possível ir a Piódão e não visitar a aldeia de Foz d’Égua, também ela decorada de casas de xisto e lousa, com uma praia fluvial de grande beleza. Aqui convergem a Ribeira de Piódão e a Ribeira de Chãs, que correm em direção ao rio Alvoco, cujo percurso é travado por uma represa que cria um espelho de água. Daqui é possível fazer um pequeno percurso pedestre até ao miradouro. Encontrará a natureza no seu estado mais puro.
Conta a lenda que aqui se escondeu um dos assassinos mais famosos do país, Diogo Lopes Pacheco (apelidos que ainda hoje existem em Piódão), um dos carrasco de Inês de Castro. Segundo os testemunhos de habitantes do Piódão, ele não foi o único. O isolamento e o difícil acesso ao local fez de Piodão um esconderijo perfeito para outros salteadores.
Das 12 aldeias históricas esta é, para nós, a mais distinta, quer na sua construção, localização e História.
Onde ficar?
- Hotel Inatel Piodão
- Casa da Padaria
- Casa de Xisto
Onde comer?
- Restaurante Fontinha
- Delícias do Piodão
- Café a Gruta
Calendário de festividades?
- “As Catraias da Estrada Real do Piodão” a decorrer nos dias 6 e 7 de julho de 2019 (integrada na iniciativa do Ciclo “12 em Rede – Aldeias em Festa”)
Locais próximos a visitar?
- Chãs d’Égua
- Foz d’Égua
Encontramo-nos no próximo destino. Junho será o mês de Marialva.
Até lá boas descobertas.
Ver também
Piodão: a aldeia presépio
Zeneando por Castelo Rodrigo
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Sara
Olá,
Já tinha planeado ir aí no aniversário de casamento este ano, estás dicas são óptimas☺️
Queria só perceber se da aldeia de Piódão a Foz de Égua dá para ir a pé ou tem mesmo de ser de carro?
Desde já obrigada
Vera e Marcelo
Olá Sara boa noite.. Acho que a escolha é acertada, pois Piódão é um local de visita obrigatória. Tem dois percursos disponíveis, um mais curto(2,8 Km) e outro mais longo(3,5 Km). As indicações estão bem visíveis na aldeia. O grau de dificuldade não sabemos, pois nesse dia devido à chuva não nos foi possível fazer.
No nosso post Piódão: Aldeia Presépio tem mais informações e dicas sobre a aldeia.
Espero que tenhamos ajudado, depois conte-nos como correu.
Cumprimentos .
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