Road trip pela fronteira portuguesa: 15 dias de campervan
Quinze dias de road trip pela fronteira portuguesa numa campervan. De Trás os Montes ao Algarve, percorrendo parques naturais, aldeias históricas e praias fluviais. Assim foi a nossa road trip. Viajamos ao ritmo do interior, com a casa às costas, a experimentar o tão falado conceito de “vanlife”. Foi a nossa estreia nestas andanças e temos saudades da viagem todos os dias. A COVID-19 cancelou-nos o sudeste asiático e a mochila às costas, mas deu-nos a rosa-dos-ventos e uma campervan alugada para explorar Portugal.
Inspiramo-nos no livro Viagem a Portugal de José Saramago (1981) e chamamos a esta aventura de férias #iremviagempelaraia, com direito a hastag e tudo!
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Ainda somos do tempo em que as fronteiras tinham guarda e cancela. Em Espanha pagava-se em pesetas e em Portugal em escudos. Os mais velhos escondiam a carne onde podiam, enquanto as crianças se lambuzavam nos chocolates que os “bigodes” não deixavam disfarçar. Ouviam-se histórias de contrabando, mas “ninguém conhecia” os contrabandistas. Sempre nos fascinou as mestiçagens das fronteiras. O acordo Schengen tirou as cancelas e deu reforma antecipada aos guardas fiscais, mas a raia mantém-se lá, em linhas invisíveis de séculos de história e onde se reconstroem as identidades raianas. Sabiam que a fronteira luso-espanhola tem 1214 quilómetros de uma linha em grande parte líquida? E que junto a ela temos aldeias históricas, parques naturais e muita mesa para aprender sobre a vida?
É sobre esta nossa experiência pela fronteira portuguesa que vos queremos contar.
CONTEÚDOS DO ARTIGO
1. Ficha Técnica da Road Trip
2. A narradora da história: as dicas da Azeitona
3. O nosso roteiro por dias
# Dia 1: Miranda do Douro
# Dia 2: Parque Natural do Douro Internacional- Mogadouro – Almeida
# Dia 3: Sabugal – Sortelha – Benquerença
# Dia 4: Penamacor – Monsanto – Penha Garcia
# Dia 5 e 6: Idanha-à-Velha – Vila Velha de Rodão – Barragem de Póvoas e Meadas
# Dia 7: Parque Natural da Serra de São Mamede: Beirã – Castelo de Vide – Marvão
# Dia 8: Alegrete – Campo Maior – Elvas – Alandroal
# Dias 9 e 10: Terena – Monsaraz – Albufeira do Alqueva
# Dia 11: Parque Natural do Vale do Guadiana: Mértola e Minas de São Domingos
# Dia 12: Alcoutim – Castro Marim – Vila Real de Santo António
# Dias 13 e 14: Dois dias na Fuzeta
# Dia 15: Regresso a casa
Nome da aventura | Ir em Viagem pela raia
Tipo de viagem | Road trip
Meio de transporte e alojamento | Campervan alugada, chamada Azeitona
Inspiração | Livro “Viagem a Portugal”, de José Saramago
Duração | 15 dias (de 3 a 17 de agosto de 2020)
Número total de Km | 1200 só ida (o regresso foi feito num dia)
Roteiro | Visitamos 7 regiões e mais de 30 localidades (entre cidades, vilas e aldeias)
Seguro de viagem | Fizemos o seguro com a IATI seguros. Optamos pelo IATI Escapadinha, adaptado à nossa viagem.
Orçamento estimado | Gastamos uma média de 1800€ (aluguer da campervan – 60€/ dia; 2 alojamentos, combustível e refeições)
2. A narradora da HISTÓRIA: as dicas da azeitona
Olá, eu sou a Azeitona, uma VW T4 de 1998, 1.9 TD, transformada numa campervan cheia de personalidade e sou eu que vos vou contar esta road trip pela fronteira portuguesa. Afinal de contas fui eu que me fiz à estrada. Se quiserem saber a origem do meu nome perguntem aos meus donos, os Mochileiros – Vanlife, mas cá para mim deve ter a ver com a minha cor, não acham?
Tenho características que me tornam irresistível. Como não sou muito grande, dou uma boa condução, sou fácil de estacionar e chego a todo o lado, mas como já tenho uma idade tratem-me com carinho! Não sou uma autocaravana, por isso não esperem o conforto da largueza, mas terão o conforto do ninho. Uma cama para dormir à noite, que é um sofá para descansar durante o dia, com um teto decorado de leds que os mosquitos adoram! Tenho uma bancada de cozinha, uma pequena arca frigorífica e bastante espaço para arrumação. Não me falta equipamento de cozinha adequado (louça, talheres, copos, panelas), um fogão e uma mesa com cadeiras para as refeições no espaço exterior. A torneira do lavatório funciona com uma bomba que envia água de um pequeno reservatório e que serve para pequenas utilizações (por isso já sabem, nada de grandes jantaradas que eu não dou conta do recado). Além disso, não tenho casa de banho incluída. Soluções? Alugar um WC portátil, parar estrategicamente em bombas de gasolina ou hipermercados, pernoitar em parques de campismo e espaços com apoio. Para os banhos, alugar/ comprar um chuveiro solar é uma boa solução, também.
Ofereço sonhos a quem quer experimentar o conceito de “vanlife”.
da série: Depois não digam que eu não avisei!!
Azeitona
Antes de embarcarmos nesta viagem, fizemos uma check list de coisas indispensáveis:
✔️ Produtos biodegradaveis: champô, sabonete, líquido da louça e sacos para o lixo (nosso e vosso). A vanlife rima com preocupações ecológicas e respeito pela natureza.
✔️ Lanterna ou Luz para usar no exterior. Fica a dica: tenham atenção à utilização das luzes por causa dos mosquitos.
✔️ Cadeiras mais confortáveis para usufruir das paisagens.
✔️ Garrafões de água extra (para beber, para a higiene ou lavar coisas).
✔️ Roupa quente para a noite.
✔️ Repelente para mosquitos. Fica a dica: muito importante!!!
✔️ Apps indispensáveis: Park4night (partilha de locais para pernoitar), Waze e Google Maps (GPS), Spotify (para música). Mas como somos da velha guarda (eu e eles), levamos o mapa de Portugal em papel e usamos muito “quem tem boca vai a Roma”)
✔️ Frigorífico cheio (à descrição de cada um!!).
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Sobre dormir, algumas dicas importantes:
✔️ Devem estacionar de forma nivelada para terem um sono tranquilo.
✔️ Para pernoitar e por questões de segurança, estacionem, preferencialmente, perto de outros autocaravanistas (exeto se se sentirem seguros no espaço que elegeram). Essa foi sempre a nossa estratégia nesta viagem.
E como não perder aquele spot especial, no meio do nada, onde gostava tanto de acordar, devem estar vocês a pensar?
Se sentirem que esse espaço não é seguro para ficar, ou não vão ter uma noite tranquila, uma hipótese é dormirem num local onde estejam outros autocaravanistas, acordarem cedo e irem assistir ao nascer do sol nesse spot fantástico, de preferência com um café bem quentinho nas mãos e a ouvir “I can see clearly now the rain is gone…”
✔️ Há algumas aplicações de partilha de locais para pernoitar, por recomendação usamos aplicação Park4night que nos assinala diversos locais para os autocaravanistas, desde os mais selvagens aos que têm mais apoio. Para nós foi muito útil e utilizamos esta app de norte a sul do país. “Around me” há muita coisa boa.
✔️ Quando se faz viagens mais longas, pode fazer sentido experimentar alojamentos locais que estejam estrategicamente localizados na rota, bem integrados no contexto natural e cultural da região ou que ofereçam algo de diferente. Ou apenas para descansarem de mim. Nesta viagem, eles deram-me dois dias de folga, imaginem! Primeiro ficaram a dormir numa bolha, mergulhados na natureza da Serra da Malcata, num alojamento chamado Moinho do Maneio. Depois, ficaram numa herdade – Herdade dos Mestres – em plena planície alentejana. Uma casa de campo que oferece a simplicidade e a tradição alentejanas, aliadas ao conforto e ao silêncio do sossego (não vos disse que eles queriam era descansar de mim!!). Eu agradeci!
3. o nosso roteiro por dias
Esta road trip foi feita junto sempre junto à fronteira portuguesa, por isso não visitamos algumas vilas e cidades que, estando no interior do país e perto da fronteira, saíam, contudo, da nossa rota.
Começamos por Trás-os-Montes: Miranda do Douro, Parque Natural do Douro Internacional e Mogadouro foram as propostas de visita. Entramos na Beira Alta e fizemos Almeida, Sabugal e Sortelha, bem pertinho do Parque Natural Serra da Malcata. Sem nos apercebermos estávamos na Beira Baixa: Penamacor, Monsanto, Penha Garcia e Idanha-a-Velha. No Parque Natural do Tejo Internacional perdemo-nos por Vila Velha de Rodão. Dali seguimos para o Alto Alentejo e fascinamo-nos com o Parque Natural da Serra de São Mamede: Beirã, Castelo de Vide, Marvão, Alegrete, Campo Maior, Elvas, Alandroal, Monsaraz e, por fim, a majestosa Albufeira do Alqueva. No Baixo Alentejo, foi o Parque Natural do Vale Guadiana que nos recebeu, Mértola e as Minas de São Domingos. Por fim, já no Algarve, passamos por Alcoutim, Castro Marim e chegamos a Vila Real de Santo António que era o nosso ponto de chegada. Reservamos ainda dois dias de praia na Fuzeta… afinal estávamos na capital portuguesa das “férias grandes”.
Que toque o sino, é “happy hour”!
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DIA 1
MIRANDA DO DOURO
Saímos de Braga e seguimos em direção a Miranda do Douro que seria o nosso ponto de partida. Como estávamos de férias, ainda nos demos ao luxo de calcorrear o Douro Vinhateiro e deliciarmo-nos com as suas paisagens panorâmicas que foram classificadas como Património de Humanidade UNESCO, em 2001. Chegamos a Miranda do Douro ainda a tempo de passear pelo centro da cidade. A sua história deu-lhe um castelo, uma Sé catedral e um centro histórico medieval que não devemos perder.
Mas deixem dar-vos um dica. Se tiverem tempo comecem a vossa viagem mais a norte, por Vinhais e Bragança e explorem o Parque Natural do Montesinho, que vale bem a pena.
Onde ficamos a dormir? Junto ao Castelo de Miranda do Douro
#DIA 2
parque natural do douro internacional- mogadouro – almeida
Acordamos bem cedo, afinal tínhamos um Parque Natural para explorar. O Douro internacional encheu-nos as medidas. Um Douro que se comprime por entres as arribas, que é abençoado pelas amendoeiras e pelas oliveiras, e que se embebeda por entre vinhas. Douro abençoado este. Percorremos o Parque Natural do Douro Internacional de norte a sul, contemplamos alguns dos seus miradouros (São João das Arribas e Fraga do Puio, Picote), aprendemos mirandês nas placas que decoram a cidade, aplaudimos a energia de quem vê na proteção dos burros de Miranda a esperteza do mundo (AEPGA – Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino, em Atenor), e deliciamo-nos com a diversidade da paisagem que é um quadro que ficará, para sempre, pendurado nas paredes da memória. Voltaremos um dia para comer mais uma posta, antes de começar a dieta.
São João das Arribas Fraga do Puio, Picote
Pelo caminho, fomos visitar o Castelo do Mogadouro e seguimos para Almeida. Eu bem queria parar, mas ouvi-os falar que já ali tinham estado quando vieram ver as Amendoeiras em Flor.
O dia estava a terminar e nós ainda tínhamos de arranjar um bom spot para dormir… e arranjamos… bem encostadinhos ao rio Côa.
Onde ficamos a dormir? Junto ao rio Côa, Castelo Bom
#dia 3
SABUGAL – SORTELHA – benquerença
Já de olho na Aldeia Histórica da Sortelha, sacudi-os da cama e pus as rodas a caminho. Sortelha era o destino, mas decidimos fazer um desvio e parar no Sabugal, que, na verdade, é uma “caixinha de surpresas” que vale bem a visita. É cidade e sede do concelho e tem o famoso Castelo das Cinco Quinas. Reza a lenda que foi aqui que a Rainha Isabel de Aragão terá transformado o pão em rosas.
Daqui seguimos para Sortelha e fomos surpreendidos com um castelo pendurado no alto dos seus 760 metros de altitude. Conseguem imaginar? Então, sustenham a respiração, pois vão entrar numa das aldeias mais bem preservadas de Portugal, com elevado potencial histórico e cultural e uma paisagem sobre o vale de Riba-Côa que não vos sairá da memória.
Sabugal Sortelha
Estava muito calor e decidimos parar para uns banhos. Primeiro na Barragem do Meimão e depois na Praia Fluvial “O Moinho”, que fica em Benquerença, onde decidimos pernoitar. Eu fiquei à sombra e eles foram dar mergulhos e saltos para a água. A praia fluvial é um local muito agradável e recomendo vivamente. Tem imensas árvores, um extenso relvado com sombra, bom estacionamento, churrasqueira e um bar de apoio. Não podíamos ter escolhido melhor.
Onde ficamos a dormir? Praia Fluvial “O Moinho”, em Benquerença
#DIA 4
penamacor – monsanto – penha garcia
Depois de termos dormido “como meninos”, seguimos em direção a Monsanto, outra Aldeia Histórica que estava no nosso roteiro. Eu bem queria ter ficado mais um pouco no fresquinho da praia fluvial, mas eles estavam entusiasmados. E lá seguimos viagem. Foi um dia feito de experiências diferentes. Visitamos a vila mais “portuguesa de Portugal” – Monsanto – que é um deslumbramento. Os motivos são vários: a sua história, a ligação perfeita com a natureza, o castelo e o casario, mas são as características geológicas sui generis – os gigantes penedos graníticos – que a destacam de tantas outras.
Monsanto
Em Penha Garcia, a 12 km de Monsanto, percorreram parte do Trilho dos Fósseis e a Rota dos Moinhos, mergulharam numa piscina natural engolida pelas rochas – praia fluvial do Pego – e subiram ao Castelo de onde têm uma paisagem inesquecível para o profundo recorte do vale do Ponsul. Até eu fiquei cansada. Mas o verão tem destas coisas… põe mais horas no relógio e mais energia nas pernas.
Praia fluvial do Pego
Foi um dia tão especial que até me fizeram estrear por terras espanholas, não estivéssemos nós na raia. Foram fazer um passeio a cavalo ao por do sol e comer umas tapas na Boiga du Viñu, em San Martin di Trevejo. No final ainda foram dormir numa “bolha”, a ver as estrelas.
Amanha é outro dia… mas o de hoje foi maravilhoso.
Onde ficamos a dormir? Moinho do Maneio
#DIAS 5 e 6
idanha-à-velha –Vila Velha de Rodão – BARRAGEM DE PÓVOAS E MEADAS
Como já repararam o nosso roteiro pela fronteira portuguesa levou-nos a visitar três aldeias históricas – Sortelha, Monsanto e Idanha-à-Velha. Em comum, têm séculos de história, muitas lendas e o peso da interioridade, que o projeto Aldeias Históricas veio combater ao colocá-las na rota turística. De diferente, têm as características da região mas, acima de tudo, as experiências sensoriais que nos proporcionam e que as tornam mais ou menos inesquecíveis.
O que nos traz Idanha-à-Velha? O tempo cristalizado nas pedras, nas árvores e na cozinha de Maria Caldeira de Sousa, Chef da Casa Velha Fonte, também conhecida por Casa da Amoreira, onde pararam para almoçar. Debaixo de uma amoreira centenária comeram um polvo com migas, inspirado no receituário milenar do romano Apício, a “roçar a espiritualidade”. E eu que espere… porque eles por lá ficaram a ouvir sobre histórias de amor.
Idanha à Velha
Em passeio demorado, optamos por ir em direção a Idanha-a-Nova para poder passar na Barragem Marechal Carmona, situada no rio Ponsul, que no oferece uma paisagem muito bonita, mantendo uma variedade de vegetação que proporciona frescura e tranquilidade nos dias de calor, como era o caso.
Daqui seguimos diretos para Vila Velha de Rodão, onde pernoitamos num stopover público e gratuito bastante bem localizado. Eles foram às compras, fizeram o jantar, passearam de mão dada pelo cais e ficaram por ali à conversa até a noite se pôr.
Em Vila Velha de Rodão havia três locais que queríamos mesmo visitar: 1) As Portas de Rodão que é um geomonumento classificado pela UNESCO e considerado Monumento Natural; 2) O Castelo do Rei Wamba; e 3) e o Miradouro das Portas de Almorão, que não visitamos porque eu furei um pneu no caminho para lá e acabamos apeados no meio do nada. Eu disse-lhes que estas coisas acontecem, mas eles não quiseram muitas conversas comigo.
Portas de Rodão Castelo do Rei Wamba
Resolvida a situação só nos restou seguir viagem até à Barragem da Póvoas e Meadas. Na verdade, foi a minha sorte, porque esta albufeira gastou-lhes os adjetivos e eles lá se esqueceram do furo. De águas quentes (no verão) e tranquilas, torna-se especial pela envolvência natural de grande beleza, onde o silêncio impera. Permite fazer passeios a pé e de bicicleta, fazer observação de aves e, à noite, olhar o céu, o melhor céu do mundo para apreciar as estrelas. Estavam tão embevecidos com o céu que nem se aperceberam que eu estava ser atacada por mosquitos. Eu e depois eles. Calor e águas tranquilas e paradas durante o dia, podem tornar-se infernais durante a noite!! Fica o aviso.
Onde ficamos a dormir?
Dia 5 – Área de serviço de autocaravanas de Vila Velha de Rodão
Dia 6 – Barragem de Póvoas e Meadas
#DIA 7
PARQUE NATURAL DA SERRA DE SÃO MAMEDE: Beirã – Castelo de Vide – Marvão
Logo pela manhã, adentramos o Parque Natural da Serra de São Mamede, um Alentejo montanhoso que tem o seu ponto mais alto a 1025 m de altitude no Pico de São Mamede. Até vos podia contar pormenores deste dia, mas eles já contaram tudo num artigo que escreveram sobre o que este Parque Natural tem para oferecer.
Saímos em direção a Beirã porque eles queriam conhecer a antiga estação de comboios Marvão-Beirã (criada no séc. XIX e classificada como Património Arquitectónico) que foi revitalizada por um projeto inovador de alojamento, chamado Train Spot Guesthouse. Daqui seguimos para Castelo de Vide, também conhecida como a “Sintra do Alentejo”. O caminho para Marvão foi feito pela famosa Alameda das Árvores, na EN 246-1, uma estrada que forma um túnel ladeado por Freixos centenários pintados com cal branca. É obrigatória, fotogénica e irresistível a uma fotografia. Quanto a Marvão, é indescritível de bela. “De Marvão vê-se a terra quase toda”, já dizia Saramago.
Pernoitamos à saída de Marvão, numa pitoresca povoação rural chamada Portagem. A app Park4night aconselhou e nós ficamos por lá. Como tem praia fluvial e um Centro de Lazer com infra-estruturas como piscina, polidesportivo, parque infantil e um circuito de manutenção, no verão enche-se de vida. À noite, tem bares, cafés, barraquinhas de rua e uma vista inacreditável para Marvão que, iluminada, mostra bem lá no alto a sua imponência.
Castelo de Vide Alameda das Árvores Marvão
Onde ficamos a dormir? Em Portagem (parque de estacionamento)
#DIA 8
alegrete – CAMPO MAIOR – ELVAS – alandroal
Queríamos continuar a explorar um pouco mais do Parque Natural da Serra de São Mamede e ouviu-os dizer que queriam ir conhecer as cascatas que existiam mais para sul do Parque. Até me comecei a rir. Cascatas no Alentejo? E não é que há mesmo! Pelo vistos são quatro as mais conhecidas e nós fomos conhecer uma delas, a Cascata da Cabroeira, que fica bem na fronteira com Espanha, depois da aldeia de Rabaça. Um pequeno tesouro ali escondido neste Alentejo montanhoso.
Mas a grande surpresa foi quando passamos por Alegrete. Não fazia parte do nosso itinerário, mas rendemo-nos ao primeiro olhar. Ao branco e amarelo do casario e ao Castelo que tem uma vista imponente para Parque Natural. Não podia a despedida ter sido mais marcante.
A estrada fez-nos passar por Campo Maior, uma cidade que alia a simplicidade do seu povo às diferentes culturas que por ali foram passando. Visitamos a Porta da Vila, o Castelo e a Igreja Matriz que nasce imponente do meio da cidade. Já Elvas pede muito mais tempo e ficamos com pena de não nos termos demorado mais por lá. A Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas, classificada como Património Mundial da UNESCO, é brutal. Distando apenas 15 quilómetros de Badajoz, em Espanha, Elvas sempre foi um ponto estratégico de defesa, o que levou à construção de um poderoso sistema defensivo, que se expressa, hoje, na Praça-Forte e nos Fortes da Nossa Senhora da Graça e de Santa Luzia, que constituem a maior fortificação abaluartada do mundo. Além disso, destaca-se o Castelo, as muralhas e o Aqueduto da Amoreira (8,5 quilómetros de extensão, 843 arcos e 31 metros de altitude).
Ó Elvas, ó Elvas
Paco Bandeira
Badajoz à vista
Sou contrabandista
De amor e saudade
Transporto no peito
A minha cidade
Aqueduto da Amoreira
Neste dia deram-me folga e ficaram a dormir numa herdade, em plena planície alentejana, com acesso direto à Estrada Nacional 255 que nos levaria depois a Monsaraz e ao Alqueva. Na Herdade dos Mestres encontraram uma casa de campo que oferece a simplicidade e a tradição alentejanas, aliadas ao conforto e ao silêncio do sossego. Nos quartos, com nomes das artes e ofícios alentejanos, dorme-se “o sono dos justos”, numa experiência gourmet para a alma.
À noite foram jantar à Adega dos Ramalhos, que fica no centro do Alandroal. A ementa foi uma sopa de tomate com figos e lagartinhos de porco preto, acompanhado por um bom vinho alentejano. Passaram a viagem toda a falar daquela sopa.
Onde ficamos a dormir? Herdade dos Mestres
“Depois de uma sopa de tomate com figos, regada com um Reguengos bem fresquinho, só uma planície alentejana para (s)acudir a sonolência. Vamos ali procurar a “sombra dum chaparro”, enquanto sonhamos voltar a ver as estrelas e as galáxias que pintam a noite do majestoso céu alentejano. Que céu inesquecível! Enquanto esperamos, senta-te aqui ao meu lado, que eu prometo oferecer-te as estrelas”. Ir em Viagem
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#DIAs 9 e 10
Terena – MONSARAZ – ALBUFEIRA DO ALQUEVA
À saída da Herdade dos Mestres disseram-nos que a vila de Terena (também chamada de São Pedro de Terena)era de visita obrigatória, e lá fomos nós. O melhor das viagens é quando encontramos pequenos tesouros escondidos, não acham? “Isto é uma paz que é muito grande”, dizia-nos Lapinha, um morador da terra, que não se cansava de elogiar a pacatez e a atmosfera acolhedora e autêntica de Terena. E com muita razão, porque na verdade estávamos todos sentados à mesa a beber café feito pelo Altino, proprietário da Guesthouse Casa de Terena, e a comer o bolo feito pela D. Conceição, vizinha do lado. Terena tem muita história e um casario caiado de branco, azul e amarelo. Conta com o Castelo, a Torre do Relógio, o pelourinho com mais de 400 anos, o Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, várias Igrejas e capelas e as Ermidas de São Sebastião e de Nossa Senhora da Conceição da Fonte.
quando o sol se levanta, dos lados do oriente
Joaquim Catita Guiomar
todo o alentejo canta, com a garganta mais quente
A planície se agiganta, ao colo de terna gente.
Seguimos caminho, mas tenho a dizer-vos que há poucas palavras que descrevam as paisagens do Alto Alentejo que são temperadas por um sol generoso que lhes dá uma cor inconfundível. Um paraíso branco e azul, onde os montes são marcados pelo verde dos sobreiros, das vinhas e das oliveiras e pelo amarelo do trigo, e serpenteados por herdades. Assim é fazer uma road trip pela fronteira portuguesa.
Mas não há objetiva que objetive o que os olhos vêem quando chegamos ao Alqueva. Um grande WOW e uma dezena de adjetivos superlativos. Para quem não sabe, o Alqueva é o maior lago artificial da Europa Ocidental, com cerca de 250 km2, criado pela construção da barragem do Alqueva entre 1998-2002. Estivemos na Albufeira do Alqueva dois dias, sem roteiro definido, parando onde os olhos se fixavam. Essa é a parte boa de viajar comigo, tipo caracol, devagar e com a casa às costas.
Visitamos o Castelo de Monsaraz ao final do dia. Fica ainda mais bonito, ele e a paisagem que nos oferece do Alqueva. O por do sol, esse, é obrigatório, de preferência brindando à vida com um copo de vinho Ervideira. E, por falar em vinhos, visitamos a Herdade do Esporão. Dormimos nas margens da Albufeira e divertimo-nos nas praias fluviais (de Monsaraz, Mourão e Amieira), muito bem cuidadas, com águas quentes e repleta de desportos náuticos para todos os gostos. Deleitamo-nos com o melhor céu do mundo para observar as estrelas e percebemos porque é que os nossos antepassados construíram lá um cromeleque (do xerez), algures entre os anos 4000 e 3000 a. C, para adoração do sol, da lua e outros astros. O lugar perfeito para danças ancestrais. Como diz a música “ouvi dizer, que existe paraíso na terra”.
O céu do Alqueva converte qualquer agnóstico.
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Onde ficamos a dormir?
Dia 9 – Às portas da Vila de Monsaraz
Dia 10 – Praia Fluvial da Amieira
#DIA 11
PARQUE NATURAL DO VALE GUADIANA: MÉRTOLA e MINAS DE SÃO DOMINGOS
Sempre encostados à raia, entramos no Baixo Alentejo. O objetivo era o Parque Natural do Vale do Guadiana, particularmente Mértola e as Minas de São Domingos. Ainda estivemos tentados a ir ao Pulo do Lobo e aos Canais do Guadiana, “onde o rio ferve entre paredes duríssimas” (Viagens a Portugal, Saramago), mas os seus caminhos acidentados agitaram-lhes a lembrança do furo que tivemos, o que nos fez adiar a visita para próximas “núpcias” e outros pneus! Pelo caminho, aquela sensação de que tanta coisa ficou por ver… e que, a cada quilómetro, a paisagem se altera bem diante dos nossos olhos. Um só rio, margens tão diferentes. Entre Mértola e as Minas de São Domingos distam cerca de 20 quilómetros… tão pouco, para tanta história.
Visitamos e pernoitamos em Mértola, perdemo-nos pela aldeia e pela Mina de São Domingos e desfrutamos da Praia fluvial da Tapada Grande. Mas confesso a nossa estupefação com o complexo e património mineiro de S. Domingos, hoje em ruínas, abandonado e decadente… mas brutal. Enquanto o visitas, fazes várias viagens no tempo e sentes-te um Marty McFly, do filme “Regresso ao Futuro”, que viaja para o passado do que foi a era moderna da exploração mineira, que iniciou em 1858 e durou até 1965, ao mesmo tempo que parece estar num cenário futurista, de uma terra destruída que já teve “anos dourados”. Esdrúxulo, é o sentimento. Inesquecível, será a memória.
Onde ficamos a dormir? No centro de Mértola
#DIA 12
alcoutim – castro marim- vila real de santo antónio
Saímos de Métola em direção a Alcontim. Ela continua a ler o livro Viagem a Portugal, de José Saramago, e comenta que estava curiosa por conhecer as “duas vilas, postas sobre o espelho da água, [que] hão-de ver-se como espelho uma da outra, a mesma brancura das casas, os mesmos planos de presépio”. Alcoutim e Sanlucar, falam línguas diferentes. Foram separadas à nascença pelo Guadiana e durante muito tempo os seus castelos defenderam as fronteiras. Talvez por isso nunca lhes tenham construído uma ponte, mas em terra de contrabandistas se não passas por terra ou por mar, passas pelo ar. Não é que construíram a Tirolina, um slide transfronteiriço que liga os dois países? Sais de Espanha às 14h, chegas a Portugal as 13h. Ficas sempre a ganhar.
Ah!! Chegamos ao Algarve.
Alcoutim
Duplicamos o tempo, mas fizemos Alcoutim até Castro Marim pelas estradas municipais 507 e 1063 que serpenteiam o Rio. O interior do interior que a presença da água suaviza e o cenário de serra estranha. Este Algarve interior tem muito que se lhe diga. Não é o “Allgarve” das praias e do turismo massificado, mas um Algarve muito genuíno, onde ainda se consegue sentir a pulsação dos vários povos que por aqui passaram – fenícios, gregos, cartagineses, romanos e árabes – e que deixaram as suas marcas. Sentada numa colina com vista para o Guadiana, Castro Marim é uma dessas surpresas simpáticas. Tem Castelo, Forte e Revelim. Tem “Dias Medievais”. Tem casas brancas, simples, de arquitetura tradicional algarvia. Tem vistas largas para as salinas, que estão por todo o lado. Castro Marim é sal, sempre foi, desde tempos longínquos, e a flor de sal o seu ex-libris. As salinas são grandiosas e estão integradas na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, mas o trabalho dos salineiros nos “talhos” é duro e muito exigente.
Com sal, sol e sul, seguimos viagem, e chegamos ao nosso destino, Vila Real de Santo António. A nossa road trip pela fronteira portuguesa estava terminada.
é preciso recomeçar a viagem. Sempre.
Saramago
Onde ficamos a dormir? No Parque de Campismo de Olhão
#DIA 13 e 14
DOIS DIAS DE PRAIA NA FUZETA
Quando chegamos ao Algarve sentimos a agitação do agosto. Estradas movimentadas, filas em todo o lado, poucos locais para estacionar. Ainda fomos à praia da Cacela Velha e seguimos para o Parque de Campismo de Olhão onde pernoitamos. Os últimos dias foram de descanso, mar e sol, usufruindo das praias na Fuseta.
Onde ficamos a dormir? No Parque de Campismo de Olhão
#DIA 15
regresso a casa
Regressamos a casa pelas estradas nacionais, paramos estrategicamente em Alcácer do Sal para comer um arroz de lingueirão e, como diz José Saramago, no livro que nos inspirou a viagem…
viaje segundo o seu projeto próprio, dê mínimos ouvidos à facilidade dos itinerários cómodos e de rasto pisado (…), persevere até inventar saídas desacostumadas para o mundo. Não terá melhor viagem…”
José Saramago
“Foi uma viagem do caraças. Desculpem, mas não há melhor forma de expressar. Do tanto que rimos, passeamos, namoramos, dormimos, dançamos ao luar, mergulhamos em “bules de chá” e conversamos, até nos esquecemos dos 37 graus que apanhamos em boa parte da viagem, do furo que tivemos no meio do nada, da invasão de melgas ou da picada da abelha. O interior de Portugal conquistou-nos. Por tudo e por nada. O segredo é saborear, brindar e repetir. Chegamos, mas já recomeçaríamos…. afinal, foi uma viagem do caraças”. Ir em Viagem
Esperamos que as nossas sugestões e imagens vos inspirem a ir e ajudem a preparar a viagem.
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E já sabem… o importante é IR!
Detalhes
Agradecimentos
Moinho do Maneio
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