Camino de Hierro: andar sobre carris

Neste artigo pretendemos apresentar a nossa experiência no Camino de Hierro, partilhando algumas informações práticas e levando-vos por uma viagem única pelas paisagens incríveis do Parque Natural das Arribas do Douro e pelas histórias fascinantes desta rota histórica. Juntem-se a nós e embarquem nesta aventura.

Para quem não sabe, o Camino de Hierro de que vos vamos falar abriu oficialmente (apenas) em 2021, depois de um grande investimento de reabilitação por parte do Município de Salamanca, como forma de potenciar o turismo da região. Mas este trilho já existia, era feito por inúmeras pessoas e conhecido como Rota dos Túneis. Contudo, era um percurso não sinalizado, pouco seguro, por causa do estado degradado das infraestruturas, e onde ocorriam com frequência alguns acidentes. Não podemos esquecer que, desde que o comboio foi desativado, a Linha do Douro ficou praticamente ao abandono. Os túneis foram colonizados por morcegos (até aos dias de hoje) e as pontes foram-se degradando.

Sabiam que…
A ligação internacional foi encerrada em 1985 e a ligação entre Pocinho e Barca D’Alva fechou em 1988? Atualmente, apenas o troço entre o Pocinho e o Porto está funcional.

O Camino de Hierro é, hoje, um trilho mais seguro que nos leva a percorrer os 17 km finais (de La Fregeneda ao pontão fluvial de Veja Terrón, na fronteira com a portuguesa Barca d’Alva) da conhecida Linha do Douro que unia Salamanca à fronteira portuguesa.

Sabiam que…
Esta linha foi construída entre 1883 e 1887, por mais de dois mil trabalhadores em simultâneo, e foi considerado uma obra de engenharia colossal. Pode parecer exagero, mas não é! O desafio era construir uma linha férrea que ultrapassasse a agreste geografia do terreno que ligava os 527 metros de altitude em La Fregeneda aos 133 metros de altitude de Barca d’Alva.

Durante cerca de seis horas caminhamos “sobre carris”, atravessamos 20 túneis (um deles com 1,540 metros, que é o Túnel 1 – La Carretera), e dez pontes metálicas, muitas delas verdadeiras obras primas da engenharia industrial e ferroviária. Por exemplo, a Ponte del Morgado que é a primeira ponte que testa as nossas vertigens e tem uma particularidade que a torna uma das maiores obras de engenharia deste Caminho que é o facto de ser curva e estar entre dois túneis. Ou a Puente del Lugar, construída por engenheiros da escola de Eiffel, que tem 140 metros de extensão e é a maior de todo o percurso.

O Caminho segue lado a lado com o vale do Rio Águeda, mergulhado no parque natural das Arribas do Douro e as suas fendas fluviais e, por isso, as vistas são incríveis e intensas.

“Pára e escuta!”… e acrescentaria, deslumbra-te.

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Segurem o queixo porque ele “vai cair” muitas vezes. O silêncio só é interrompido pelo som das aves que sobrevoam o vale. Abutres do Egipto, Águias Reais e Grifos. Pode parecer exagero, mas foi um dos trilhos mais bonitos que fizemos, porque tudo nele é uma experiência para os sentidos. Mas vejam as fotos. Elas valem mais do que mil palavras!

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Informações práticas: perguntas e respostas

Quando publicamos a nossa experiência nas redes sociais recebemos muitas mensagens com questões práticas relativas ao percurso. Por esse motivo, achamos que criar esta secção de perguntas-respostas poderá ser mais útil para expor essas informações práticas.

1. O Camino de hierro é a mesma coisa que a rota dos túneis?

Na prática sim, mas, como explicamos em cima, o Município de Salamanca decidiu reabilitar o percurso, limitando e criando condições de acesso.

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2. Onde é que fica o camino de hierro e onde inicia?

O percurso inicia na antiga estação de La Fregeneda e a melhor forma de lá chegar é de carro, percorrendo a Estrada Nacional 221 por Barca D’Alva. Uma estrada lindíssima, por sinal. Passando Barca d’Alva seguem em direção a La Fregeneda, devem passar a vila e a antiga estação fica a cerca de 4 km do centro da vila. Não se preocupem com o estacionamento porque está disponível a todos/as e é gratuito.

• Do Porto são cerca de 230 km (pela A4)

• De Lisboa são cerca de 410 km (pela A23)

3. Para fazer o caminho é preciso pagar?

SIM e a reserva dos bilhetes é feita exclusivamente online no site oficial do “Camino de Hierro”. O preço (à data) foi de 8€/ adulto e inclui, além de um seguro de responsabilidade civil e acidentes, um mapa, um colete refletor, uma mini lanterna e transporte de regresso. Este valor reverte inteiramente para a manutenção do Camino de Hierro. Quando fazemos o check-in o/a funcionário/a faz um briefing sobre o trilho e dá as informações necessárias. Atenção que devem conservar o bilhete até ao final do percurso porque, durante o trajeto existem alguns checkpoints e, no final, para usufruir do transporte gratuito, terão de mostrar o bilhete.

Sugestão: Comprem o bilhete com antecedência. Por um lado porque o acesso é permitido a apenas 200 pessoas por dia e, se fizerem o percurso durante o fim de semana as vagas são rapidamente preenchidas por grupo de caminhantes.

4. POSSO COMEÇAR o caminho a qualquer hora?

NÃO. O horário de acesso é restrito quer para iniciar, quer para finalizar. No horário de inverno (outubro a março) a bilheteira está aberta apenas das 09h às 10h e no horário de verão (abril a outubro) entre as 7h30 as 8h30 (hora espanhola). Conforme o horário, a rota tem de terminar ou às 16h ou às 15h, respetivamente. Atenção que se não terminarem a essas horas não poderão usufruir da viagem de regresso. É expressamente proibido aceder ao percurso através de outro local ou entrada.

Atenção: o caminho encerra ao público às segundas feiras e em alguns dias festivos. Antes de ir, consultem o site oficial.

5. Se o caminho é linear, como é que regresso ao início?

No bilhete está incluído o transporte do Cais de Vega Terrón (onde termina o trilho) até à antiga Estação de La Fregeneda. Não há horários definidos para a saída de autocarros, mas o tempo de espera entre cada autocarro é de cerca de 30 minutos. No Cais Fluvial Vega Terrón há um café onde podem descansar.

6. Qual é a melhor altura para fazer o camino de hierro?

Sem a mínima dúvida as épocas recomendadas são a Primavera e o Outono. Naquela zona, o verão e o inverno são estações muito rigorosas e o trilho é sempre de grande exposição. Qual é que pode ser o inconveniente de fazer na altura recomendada? É ter de fazer mais 1 km para contornar o Túnel nº 3 que é fechado para proteger a colónia de mais de 12.000 morcegos, no período de reprodução. Mas vale bem a pena!

7. Se tiver vertigens, devo fazer o trilho?

Pessoas com vertigens e claustrofobia devem avaliar se o seu grau e nível de ansiedade é ou não um bloqueador e ter as precauções devidas. Ao contrário do que acontecia na antiga Rota dos Túneis, o percurso foi requalificado e é, neste momento, mais seguro e vigiado, mas vão ter de passar por pontes suspensas e túneis longos (sem percursos alternativos).

8. Não estou habituada a caminhar, será que aguento?

Não temos uma resposta positiva ou negativa para esta questão. Será mais importante levar em consideração algumas condições do caminho e, a partir daí, avaliar a sua capacidade de resposta. O percurso é longo, tem limitação de tempo e é exigente fisicamente. Terão de caminhar muitas vezes pelos carris, onde existe muita pedra solta, as traves muitas vezes são escorregadias e irregulares, o que implica circular com atenção e cuidado. É, também, um percurso muito exposto às condições climatéricas. Contudo, o caminho não tem grandes desníveis e permite-se a várias paragens (de pouco tempo), quer para apreciar a paisagem, quer para descansar. Ao km 11 há um checkpoint onde tem casas de banho. É uma boa altura para comer alguma coisa. Fora dos túneis é quase sempre possível caminhar pelas laterais da linha o que facilita imenso a progressão e levar um bastão de caminhada pode ser um bom auxílio.

Mas vejam com os próprios olhos

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9. O que devo levar na mochila?

✅ Água (atenção que não há nenhum lugar para abastecimento de água)

✅ Calçado confortável (preferencialmente botas ou sapatilhas de caminhada)

✅ Comida leve (snacks);

✅ Chapéu, óculos de sol, protetor solar (dependendo do dia)

✅ Máquina fotográfica e/ou telemóvel (atenção que em alguns troços não vai haver rede)

✅ Um saco para trazer o lixo.

10. É seguro levar crianças?

Os menores de 16 anos podem realizar o percurso, mas sempre acompanhados por um adulto e documento que comprove a sua idade. Se for com crianças até aos 8 anos, só é permitido fazer o trajeto reduzido (até à ponte logo a seguir ao túnel n.º 3) que conta com 8 km de extensão (ida e volta).

11. Posso levar o meu animal de companhia?

Não é permitido levar animais de companhia

12. Posso fazer o caminho de bicicleta?

Não. O trilho é exclusivamente pedestre.

13. Como o trilho começa muito cedo, onde poderia ficar alojada?

Como viajamos de van não reservamos nenhum alojamento, mas partilhamos um mapa com a identificação dos alojamentos que existem no local.

E assim terminou a nossa aventura pelo Camino de Hierro.

Daqui seguimos para Salamanca, mas isso já é outra história.

^{Esperamos que as nossas sugestões e imagens vos inspirem a ir e ajudem a preparar a viagem.
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