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Salamanca e os seus “pueblos más bonitos”

Neste artigo pretendemos partilhar uma road trip de três dias que fizemos pela região de Salamanca. Uma proposta que promete revelar paisagens incríveis, cidades históricas, autenticidade e os segredos mais bem guardados dos charmosos “pueblos” espanhois.

Desenhamos um roteiro de três dias, pegamos na van e pusemo-nos à estrada. Atravessamos Portugal de lado a lado [Porto – Barca d’Alva] e, apesar de seguirmos para Espanha, mantemos firme a certeza de que não nos fartamos de apreciar o interior do nosso país. Tão diverso, tão singular. Então a zona do Douro Internacional é absolutamente incrível. O Criador do Mundo foi gentil connosco, é o que pensas!

Roteiro

– Partimos diretos do Porto até Barca d’Alva.
– Seguimos em direção a La Fregeneda para fazer o Camino de Hierro.
– No mesmo dia fomos para Salamanca, onde ficamos um dia e meio.
– Adentramos o Parque Natural das Batuecas, na Serra de França, e visitamos dois dos “pueblos más bonitos” de Espanha: La Alberca e Mogarraz.
– Já em direção à fronteira, paramos em Ciudad Rodrigo.
– Regressamos a casa.

1. Camino de Hierro

A primeiro objetivo da nossa aventura era fazer o Camino de Hierro, um trilho pedonal que nos leva a percorrer os 17 km finais (de La Fregeneda ao pontão fluvial de Veja Terrón, na fronteira com a portuguesa Barca d’Alva) da conhecida Linha do Douro que unia Salamanca à fronteira portuguesa. Para saberem mais sobre esta experiência, cliquem no botão.

2. salamanca (cidade)

De La Fregeneda (depois de fazermos o Camino de Hierro) seguimos para Salamanca, que fica a cerca de 110 km. Na verdade, mal sentimos o distância. A estrada é boa, a paisagem é muito bonita e o bolso ficou agradecido (em todo o percurso que fizemos em Espanha não pagamos uma única portagem).

Ainda não conhecia Salamanca e saí de lá com a certeza que é uma cidade que merece a nossa visita.

Salamanca faz com que todos aqueles que desfrutaram da agradável experiência de viver nela, anseiem regressar”

Cervantes


É uma cidade universitária e, por isso, alegre, diversa e jovem. Sabiam que durante séculos a Universidade de Salamanca foi a mais importante da Europa, rivalizando, por exemplo, com Oxford? É Património da Humanidade, pela sua riqueza histórica e cultural. É apelidada de La Dorada, por causa dos seus edifícios de arenito dourado que brilham à luz do sol. É uma cidade grandiosa nos edifícios, palácios e praças, mas é inimista no trato e nos pormenores. É início do Caminho de Torres para Santiago de Compostela. Salamanca é a efervescência de tudo isto.

A cidade percorre-se a pé e devagar. Há muitos lendas e segredos escondidos nas paredes, que só um olhar atento e despreocupado poderá desvelar. Sem ordem definida, partilhamos alguns locais que gostamos muito de visitar:

– Catedral de Salamanca (nova e velha)

Construída ao longo de vários séculos, a Catedral exibe uma fachada deslumbrante cheia de detalhes intricados, incluindo esculturas que retratam figuras religiosas e históricas. O seu interior é igualmente impressionante, quer a Catedral nova, quer a velha (à qual só se acede se entrarmos).

Informação útil: Acesso ao interior da Catedral tem o valor de 10€/ pessoa (à data da visita)


– Plaza de Anaya e seus jardins

Não é fácil descrever esta praça, situada ao lado da Catedral de Salamanca, porque tem sido um ponto de encontro popular para moradores e turistas, oferecendo um espaço verde sereno cercado por impressionantes exemplos de arquitetura renascentista e gótica.


– Casa das Conchas

Construída no final do século XV, esta magnífica casa senhorial é famosa por causa da sua fachada ornamentada por mais de 300 conchas esculpidas em pedra, representando o símbolo dos Cavaleiros de Santiago. Além de sua fachada única, a Casa das Conchas abriga, hoje, a biblioteca pública, exposições temporárias, eventos literários e até mesmo uma escola de idiomas, tornando-a um refúgio para os amantes da literatura e da história.

A Clerezia

Mesmo frente à Casa das Conchas encontramos esta igreja conhecida pela sua arquitetura de estilo barroco espanhol. Originalmente construída no século XVII, como parte da antiga Universidade de Salamanca, a A Clerezia é, hoje, mais do que um local de culto, ela desempenhar um papel ativo na vida cultural de Salamanca, servindo como palco para concertos, exposições e outros eventos especiais.


– Plaza Mayor de Salamanca

Sentamo-nos num dos bancos. Não para descansar, mas porque a Praça é tão vibrante que precisávamos de tempo para absorver tanta informação: história, arquitetura, movimentos. Ao nosso lado, sentado com o seu cão, um senhor cantarolava a boa voz. Olhamos para ele, sorrimos, e ele disse: _ “Esta plaza es magnífica. Vengo aquí todos los días y nunca me canso de mirarlo. ¿Sabías que cuando era estudiante vivía en uno de estos pisos? Siempre ha sido así, una plaza llena de vida”. E continuou a cantarolar. Era um professor reformado, muito viajado, falava várias línguas, inclusive o português brasileiro. Mas depois de tanto viajar, é em Salamanca que quer ficar. Conversamos por mais de meia hora e ele contou-nos algumas curiosidades desta Praça e levou-nos a viajar sem sairmos do lugar.

Ficamos a saber, por exemplo, que embora pareça quadrada à primeira vista, a praça tem uma forma ligeiramente trapezoidal e que isso foi intencional para criar uma ilusão óptica, fazendo com que pareça ainda mais grandiosa. Que, no passado, já foi utilizada como arena de touros e que, diferentemente de outras praças maiores de Espanha, esta é completamente fechada por edifícios, o que lhe dá uma sensação de intimidade e grandiosidade ao mesmo tempo.

É, de facto, uma praça monumental, considerada uma das mais belas da Espanha. É um ponto de encontro e onde a vida social e cultural de Salamanca floresce. Foi construída no século XVIII e é um exemplo da arquitetura barroca espanhola. As galerias arqueadas (com 88 arcos encabeçados por imagens de figuras históricas) que cercam a praça abrigam uma variedade de lojas, cafés e restaurantes. Para os habitantes locais, a Plaza Mayor é mais do que apenas uma praça, é um símbolo de identidade, um ponto de encontro e um testemunho vivo da rica história e vitalidade de Salamanca.


– Universidade de Salamanca, a porta plataresca e a rã da sorte

Não espere encontrar “uma porta” para entrar na Universidade de Salamanca. A Universidade espalha-se por todo o centro histórico e a sua importância não se deve apenas ao facto de ser uma das universidades mais antigas da Europa (foi fundada em 1218 pelo rei Afonso IX), mas também porque a sua arquitetura é deslumbrante e reflete séculos de evolução artística e intelectual.

Uma das características mais icónicas da Universidade de Salamanca é a sua porta plateresca, um estilo arquitetónico espanhol que combina elementos do gótico tardio e do renascimento, caracterizado pela sua decoração rica e detalhada que lembra o trabalho de um ourives. Por isso, esta porta é uma obra de arte em si mesma. De entre a variedade de figuras esculpidas, incluindo santos, animais mitológicos, e elementos heráldicos, há um detalhes que a torna ainda mais especial. Entre os estudantes diz-se que quem “encontrar a rã sem ajuda traz boa sorte nos estudos”. Não estranhe se vir muitas pessoas a olhar para a porta horas a fio!

A Universidade de Salamanca continua a atrair imensos estudantes de todo o mundo, mantendo sua tradição académica e um papel papel importante de guardiã de um património cultural inestimável.


– Huerto de Calixto e Melibea

O Huerto de Calixto e Melibea é um jardim encantador que está situado nas margens da antiga muralha da cidade, situado perto de importantes marcos históricos de Salamanca, incluindo a Casa Lis e a Catedral de Salamanca e oferecendo vistas deslumbrantes sobre o rio Tormes e a catedral. Ninguém lhe resiste.

Mas vamos partilhar algumas curiosidades sobre este lugar tão pitoresco. A primeira curiosidade que tornou este jardim tão famoso é a sua associação literária com “La Celestina”, uma das obras-primas da literatura espanhola escrita por Fernando de Rojas no final do século XV. Embora não haja evidências concretas de que o jardim tenha realmente inspirado Rojas, a lenda local associa o lugar ao romance, aumentando seu apelo romântico e literário. Tem caminhos sinuosos, fontes, bancos de pedra e uma abundância de flores e plantas. A segunda curiosidade prende-se com outras lendas e histórias que encerra. Diz-se que um poço no jardim, conhecido como “Poço de Melibea”, é onde Calixto e Melibea costumavam se encontrar secretamente. Acredita-se que atirar uma moeda ao poço traz boa sorte no amor. Talvez seja por isso que a moda dos cadeados também lá chegou. Uma outra curiosidade é que o jardim serve como local para eventos culturais e atividades ao ar livre, como leituras de poesia e pequenas apresentações teatrais.


– Museu Art Nouveau e Art Déco Casa Lis

Localizado na Casa Lis, que é um palacete modernista (adornada com vitrais coloridos e detalhes ornamentais de ferro forjado) construído no início do século XX, o museu é um testemunho da elegância e sofisticação das eras Art Nouveau e Art Déco. No interior, o Museu abriga uma coleção extraordinária de mais de 2.500 peças oferecendo um vislumbre detalhado dos estilos decorativos que definiram o final do século XIX e o início do século XX. As salas do museu são organizadas tematicamente, permitindo aos visitantes apreciar a evolução dos estilos Art Nouveau e Art Déco e sua influência na cultura e na sociedade da época.


– Igreja e Convento de San Esteban

A Igreja e Convento de San Esteban são um complexo religioso administrado pela Ordem dos Dominicanos. A sua construção começou no início do século XVI e foi concluída em meados do século XVII. A fachada é uma das mais impressionantes da cidade, ricamente decorada com esculturas e relevos que ilustram cenas da vida de San Esteban, o primeiro mártir cristão.

Curiosidade: San Esteban desempenhou um papel significativo durante o período do Concílio de Trento (1545-1563). Vários membros da ordem dominicana de Salamanca, incluindo teólogos importantes, participaram dos debates e decisões que moldaram a Reforma Católica.


– Ponte romana

A ponte foi construída no século I d.C., durante o reinado do imperador Trajano, como parte da Via de la Plata, uma rota romana que ligava Mérida a Astorga. Ao longo dos séculos, a ponte continuou a ser utilizada, demonstrando a sua durabilidade e a excelência da engenharia romana. Hoje é um ponto de passagem para pedestres e ciclistas, preservando seu papel como uma via de comunicação vital. Ao longo dos tempos foi passando por várias reformas e restaurações, mas conserva ainda 15 arcos originais.

Na entrada da ponte, do lado da cidade, encontra-se uma estátua de um verraco (um porco selvagem esculpido em pedra), que se acredita ser de origem celta, anterior à ponte romana. Esta estátua é um símbolo de proteção e está intimamente ligada à identidade histórica da região.


– Passear pelas ruas labirínticas do centro histórico
e “ir de tapas”

Passear pelas ruas do centro histórico de Salamanca é como fazer uma viagem no tempo, mergulhando em séculos de história, cultura e arquitetura. Ruas estreitas e pavimentadas de pedra, edifícios antigos, muitos dos quais datam da Idade Média e do Renascimento e praças com caráter. As ruas estão cheias de cafés e restaurantes que servem pratos típicos da culinária salmantina, como por exemplo um “hornazo” (um tipo de bola de carne). À noite, a cidade ganha (ainda mais)vida. Bares de tapas oferecem uma experiência gastronómica ímpar. Tapas, pinchos e vinho/ cerveja não podem faltar.

Sobre alojamento: como viajamos na nossa van não tivemos necessidade de ficar em nenhum alojamento, mas decidimos ficar no Parque de Campismo – Camping Regio – que recomendamos vivamente. Mas partilhamos aqui um mapa onde podem encontrar várias opções de alojamento para todos os preços.

3. Parque Natural de las Batuecas – Serra de França

Saímos de Salamanca em direção à Serra de França [Sierra de Francia] com o objetivo de conhecer dois dos “pueblos más bonitos” de Espanha: La Alberca e Mogarraz. Ambas as aldeias ficam no Parque Natural de Las Batuecas, na Serra de França, que é também Reserva da Biosfera. Por esse motivo, as suas paisagens conservam um encanto especial para quem o visita.

No Parque Natural, seis localidades foram declaradas conjuntos históricos pela sua riqueza patrimonial: La Alberca, Mogarraz, Miranda del Castañar, Sequeros, San Martín del Castañar e Villanueva del Conde.

O seu ponto mais alto é a Peña de Francia, a 1723 metros de altitude. Lá em cima, além de uma vista incomparável, por ser um miradouro privilegiado para toda a província (quando o tempo permite!), encontrará um conjunto de monumentos históricos, entre eles um convento fundado pelos Dominicanos e uma capela que possui uma réplica da Virgem com a talha encontrada no local. 

O Parque Natural tem, também, uma rede de trilhos para todos os gostos. Grandes e pequenas rotas, circuitos de BTT, trilhos acessíveis, trilhos temáticos, rotas de enoturísmo, trilhos pelos miradouros das serras ou trilhos pelos “pueblos” ou “conjuntos históricos” como são chamados.

3.1 La alberca

Mergulhada no coração do Parque Natural Las Batuecas, e só por isto já soa bem! La Alberca deixa a sua marca. Não sei se têm a mesma sensação que nós, mas quando se chega a locais com fortes expressões medievais – no casario, na arquitetura tradicional ou nos elementos religiosos – parece que somos transportados para o cenário de um qualquer filme d’ Época. Talvez seja criatividade a mais, mas La Alberca estimula o nosso imaginário à medida que percorremos as suas ruelas estreitas e labirínticas, cheias de pormenores e símbolos esculpidos nas paredes, ou apreciamos as casas feitas de pedra e madeira, às riscas castanhas e brancas, que parecem estar em constante equilibrismo.

Em La Alberca todas as ruas vão dar, não a Roma, mas à Praça Maior, que é a praça central da aldeia. Local de encontro. Porta sim, porta sim, há lojas de comércio tradicional, cafés, restaurantes e o posto de turismo. Passe lá e peça o mapa turístico. Não há criatividade ou imaginação que dispense um “sabia que…!”.

Um pouco mais acima, a Igreja de Nuestra Sra. de la Asunción e não estranhe quando vir a  estátua de um porco em pedra, porque ela tem história e é daquelas que dá lenda e festejo. Todos os anos, no dia 13 de junho, nas festas de Santo Antonio, um porco é solto nas ruas, depois de abençoado, e é cuidado e alimentado pelos moradores até ao dia 17 de janeiro, altura em que é leiloado. Correlações à parte, La Alberca é muito famosa pelos seus enchidos, especialmente os presuntos, e acreditem que se vão aperceber disso.

No coração do Parque Natural Las Batuecas bate forte o “lugar das águas” (significado do nome La Alberca), e só por isto já soa bem! 

3.2 mogarraz

Dez quilómetros separam La Alberca de Mogarraz. Os dois “pueblos” não diferem muito na arquitetura serrana e tradicional, no casario, nas ruelas estreitas, nem no verde do Parque Natural das Batuecas. Mas Mogarraz tem um segredo que a torna diferente e pitoresca. 388 retratos pintados de antigos moradores estão pendurados nas fachadas das (suas) casas e da igreja. O projeto chama-se Retrata2-388 e foi ideia de Florencio Maíllo, um pintor local, que, em 2008, recuperou um arquivo fotográfico dos habitantes de Mogarraz, de 1967, transformando a aldeia numa galeria de arte a céu aberto.

A ideia foi genial. “El pueblo de las caras”, como é conhecida. Para quem lá mora funciona como o resgaste de uma memória coletiva que se quer preservar e um impulso para o turismo, numa aldeia fortemente marcada pelo êxodo rural e os processos migratórios. Para quem a visita permite a partilha de uma emoção partilhada. Cada retrato é uma cápsula de vida, com história dentro.

Gostamos muito, muito, muito! E temos de reconhecer que Mogarraz é especial e impressiona. “El pueblo de las 388 caras” (que não envelhecem).

Curiosidade: O projeto Retrata2-388 foi inaugurado em 2012 e ia estar exposto 6 meses. Está a fazer 12 anos de exposição permanente e, neste tempo, a mostra ampliou-se e já conta com mais de 800 retratos. Vejam a galeria de fotos e surpreendam-se.

4. Ciudad rodrigo

Seguimos para Ciudad Rodrigo que é considerando, também, uma dos “pueblos más bonitos” de Salamana. É conhecida pela riqueza da sua história que remonta à época romana. A cidade tem uma impressionante muralha medieval bem preservada, que circunda o centro histórico. A Catedral de Santa María, datada do século XII, é um exemplo notável da arquitetura românica e gótica.

Não nos encheu as medidas, mas que é cheio de história, lá isso é!

Curiosidade: Em 1812, Ciudad Rodrigo foi palco de uma importante batalha entre as forças britânicas, lideradas por Wellington, e as forças francesas. Este evento é uma parte significativa da história militar da região, mas também com repercussões em Portugal, especificamente em Almeida.

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abril de 2024
Marcelo Andrade
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