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CAMINHO DE SANTIAGO: Caldas de Reis – Padrón

Caminho de Santiago: 6ª Etapa
Distância e duração: 19 quilómetros, +/- 5 horas
Mais interessante: as paisagens de bosque nos doze primeiros quilómetros. As conversas (inesperadas) com as pessoas da terra que enriquecem a história do (nosso) “Caminho”. A forma como nos sentimos “acolhidos” pela vila de Padrón (a regressar!)
Mais difícil: o sentimento de que o caminho está a terminar.
Aprendizagens: fazer o “Caminho” é também conhecer e adentrar as localidades por onde passamos e ficamos. Enriquece-nos

 

Dicas úteis
Nunca devemos descurar o calçado e a roupa a levar. Deixamos aqui algumas sugestões do tipo de material que utilizamos: botas, meias, calças moduláveis, impermeável adaptado a quem leva mochila.
– Leia o nosso artigo sobre “O nosso caminho para Santiago: escolhas e questões práticas”

 #caminho Português de Santiago #caminho central #maio2018

camino

Etapa inesquecível. Das mais bonitas.
Saímos de Caldas de Reis pela ponte medieval e um pouco mais à frente entramos no vale do rio Bermaña. Subimos até à povoação de Cruceiro, por entre bosques, prados e povoações rurais. Este percurso do Caminho de Santiago é um percurso cheio de encantos. Vejam as fotos e perceberão…

Paramos em Santa Mariña de Carracedo (km 5,5) para tomar um café, descansar e conversar. Bon camino, repetimos vezes sem conta. Olá, hello, good morning, buenos dias… todos os cumprimentos. Dali seguimos caminho, passamos junto à Igreja de Santa Maria de Carracedo e, como sempre, somos surpreendidos pela beleza do detalhe e por uma espécie de mistério que os cruzeiros ou cruceros parecem conter. Os cruzeiros são elementos da etnografia do Caminho de Santiago, monumentos religiosos (muito característicos da paisagem portuguesa e galega) constituídos por um pilar de pedra adornado e encabeçado por uma cruz. Os cruzeiros estão localizados em espaços públicos – no meio de populações, átrios de igrejas e encruzilhadas – e acompanham-nos por todo o caminho. No seu simbolismo, desejam-nos “boa fortuna para a viagem”. No seu misticismo, protegem-nos dos “espíritos” e do “diabo”.

Entregues às maravilhas da natureza, que por momentos nos faz perder (n)o tempo, continuamos o nosso percurso. O livro-guia dizia que íamos passar por cenários com antigos moinhos de água. Acreditamos que estejam lá, mas não os vimos 🙂 A meio do caminho paramos na área de descanso Museo Labrego, um espaço pensado para o peregrino, com casas de banho, mesas e cadeiras, máquinas de vending e de café e carimbo para quem quiser! Ao lado das máquinas o Aviso: “no vale la pena robar el dinero recaudado, se saca todas las tardes. Gracias por la compreension”. Assim é o Caminho de Santiago.

Percorridos cerca de 12 quilómetros, começamos a descida para Pontecesures. Pelo caminho és surpreendido por um daqueles locais que mais parecem tirados de um filme de Tim Burton… fantasioso e sinistro. Entramos um pouco a medo, perguntamos se podíamos ter um carimbo e o dono, de aspeto e voz rude, responde:
_ só se deixar uma contribuição!
Desagradável, pensamos!! Mas rapidamente a conversa se fez e, de forma fervorosa, contou-nos a história do Caminho (à maneira dele!) desde a época romana. Uma história cheia de tramas, conspirações e intrigas, mas muito conhecimento à mistura. Como dizia:
_ as pessoas só querem seguir setas e andam convencidas que estão a fazer o Caminho primitivo. Mas não!? replicava! Alguém comprou uma tinta amarela e começou a pintar setas, e as pessoas estão todas convencidas que estão no caminho correto. Isto é tudo interesses!!
Não nos lembramos do nome, nem fotografamos o espaço, mas fica no Caminho de Santiago, bem à entrada de Pontecesures. Dizem que se come umas boas tostas, por lá! Confidenciou-nos uma peregrina, em tom de exclamação.

Continuámos pela zona antiga de Pontecesures e atravessamos o rio Ulla pela ponte romana, que aliás está na origem da vila, hoje um pouco esquecida… apesar de o seu porto ter tido, outrora, uma grande importância para o desenvolvimento e proteção da região.
Falta pouco para chegarmos a Padrón…  dois quilómetros por zona rural.

Sem grandes expectativas, fomos surpreendidos por um ‘pueblo’ cheio de história. Bela e monumental, Padrón é o berço da tradição jacobeia. Reza a lenda, que depois da morte de Santiago em Israel, os seus restos mortais foram transportados para Padrón.
Logo à entrada, o nosso albergue: O Pedrón. Um albergue privado, novo e com ótimas condições. Do melhor que vimos no Caminho de Santiago.Recomendamos.

Após um bom descanso numa esplanada virada para o sol, e cheios de energia, saímos para conhecer a vila. Atravessamos o parque “Passeo do Espolón”, que é uma alameda arborizada lindíssima, que se encosta ao rio Sar. “Passarelamos” por lá até chegarmos à ponte.

À esquerda, avistas a Igreja do Convento do Carmo, que espreita bem lá do alto e protege a vila. Temos de lá ir, pensamos! Atravessamos a ponte e passamos, primeiro, pela Fonte do Carmo. Dizem que foi aqui que se fez a trasladação do corpo de Santiago. Subindo para a Igreja do Carmo, passamos pelo albergue municipal. Paramos lá e estivemos à conversa com a D. Olga, funcionária do albergue. Que momento bom! Ficamos a saber que os pimentos padrón são cultivados a 1,5 km dali e só dão de junho a setembro (e por isso não os servem fora da época).

Do lado direito, no núcleo histórico, ergue-se a Igreja Paroquial de Padrón, também conhecida como Igreja de Santiago El Mayor, onde está guardado O Pedrão, a pedra onde foi presa a barca que transportava o corpo de Santiago. Além disso, nos diversos altares e paredes da igreja, imensos elementos da tradição jacobea – quadros representando a trasladação e a aparição da virgem aos apóstolos, púlpitos com imagens e símbolos relativos a Santiago, estatuetas de Santiago no seu cavalo branco a evangelizar. Visitar esta igreja é obrigatório.


A noite punha-se, e seguindo os conselhos da D. Olga, fomos jantar ao Restaurante Alpendre, comer umas tapas e beber um vinho Crego e Monaguilho. “Muy rico”, dizia ela!. No final, dois “chupitos” de licor de café e uma boa dose de conversa com um grupo de peregrinos espanhóis, das Astúrias.

Esta era a penúltima Etapa do Caminho de Santiago. E há medida que o tempo passa vamos percebendo que queríamos continuar no caminho. Não há pressa para chegar. Já deitados, antes de adormecer, as palavras de Miguel Torga ressoavam…

“Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar”

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Detalhes
maio de 2018
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